25 DE JANEIRO DE 2014
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A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Queria colocar ao Sr.
Ministro, fundamentalmente, duas questões, a propósito da matéria que estamos a discutir.
Uma tem a ver com a constatação de que as bolsas de investigação tiveram uma redução bastante
substancial: 90% dos candidatos a bolseiros ficam sem apoio e, por exemplo, relativamente ao pós-
doutoramento, há uma redução de 65%, comparativamente ao ano anterior.
O Sr. Ministro está, penso, a acompanhar de perto esta matéria e sabe certamente responder à Assembleia
da República o que é que vai acontecer a estas pessoas tão qualificadas e que ficaram de fora e para as quais
existe uma ameaça de ficarem, de facto, fora do sistema. Qual é a alternativa que o Governo apresenta a
estas pessoas?
Quem ouviu o Sr. Deputado Michael Seufert fica com a certeza absoluta de que todas estas pessoas,
altamente qualificadas, ficam descansadas porque encontrarão o que fazer em Portugal, na sua área. É assim
que interpreto as palavras do Sr. Deputado e quero ouvi-las por parte do Sr. Ministro. Isto porque nós
desconfiamos que o recado concreto do Governo para estas pessoas seja, eventualmente, o mesmo que foi
para os professores: quem quiser, emigra; quem não quiser, sujeita-se ao desemprego. Estamos com receio
disso, Sr. Ministro, e precisamos de uma resposta relativamente a esta matéria.
Diz depois o PSD que as bolsas de investigação individuais diminuem porque nós precisamos de investir
nos laboratórios de Estado. Mas, Sr. Ministro, aquilo que verificamos é que o Governo está a desinvestir e a
desmantelar os laboratórios de Estado e, portanto, não ficamos a perceber o que é que realmente se está a
passar.
Vozes do PCP: — Exatamente!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Ministro, fala-se aqui de um novo paradigma, mas nós
estamos desconfiados de que este «novo paradigma», assim apelidado pelo Governo, é, de facto, um
velhíssimo paradigma, porque, Sr.as
e Srs. Deputados, com ele, eventualmente, vamos regredir, e muito, na
ciência neste País e naquilo que ela representa para o desenvolvimento do País.
Portanto, Sr. Ministro, o debate, agora, precisa de uma intervenção do Sr. Ministro. Se fizer o favor de nos
ofertar com a mesma de modo a podermos obter respostas, eventualmente voltaremos a questioná-lo acerca
destas matérias.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro
Delgado Alves.
O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, Srs. Secretários de Estado, Sr.as
e Srs.
Deputados: A primeira pergunta que se coloca a todos nesta Câmara é qual é a comunidade científica com
que a maioria e o Governo têm dialogado e que diz que está tudo bem, que estamos só a reprogramar e a
mudar de paradigma. É que a comunidade científica real, com a qual temos falado, o que nos diz é que estas
alterações são desestruturantes e estão a pôr em causa a sustentabilidade do Sistema Científico e
Tecnológico Nacional. É isto que a realidade nos diz.
Aplausos do PS.
Simultaneamente, pretender alegar, nesta Câmara, que o Governo anterior é o responsável por todos os
males na ciência, curiosamente apenas referindo números entre 2009 e 2011, e esquecendo a linha de
progressão que, desde 2005, permitiu um aumento do investimento em ciência neste País como nunca tinha
ocorrido até então, é que demonstra uma capacidade de invenção notável.
É que aquilo que procuram comparar é incomparável. Uma coisa são estes números, que nos revelam um
retrocesso de 10 anos — repito, 10 anos! — no investimento em ciência. Outra coisa é pretender comparar
este retrocesso com os dois anos em que foi necessária alguma disciplina orçamental…
O Sr. Duarte Filipe Marques (PSD): — Alguma?!