I SÉRIE — NÚMERO 52
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Aplausos gerais.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra, pelo PS, o Sr. Deputado Marcos Perestrello.
O Sr. Marcos Perestrello (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Este ano, em 2014, passam 10
anos sobre a morte de Sophia de Mello Breyner Andresen e celebram-se os 40 anos da Revolução do 25 de
Abril.
A convergência destas duas datas dá-nos a ocasião certa, diria perfeita, para, homenageando Sophia,
evocarmos aquilo que no 25 de Abril é mais inspirador e mais perene: a força original e criadora do reencontro
de um povo com a sua liberdade e com a esperança numa vida melhor e num País mais justo.
Foi Sophia quem, falando desses dias exaltantes, deu a Maria Helena Vieira da Silva o mote «A poesia
está na rua», a partir do qual a grande pintora criou o belíssimo cartaz que se tornou numa das imagens que a
Revolução deu ao futuro.
Foi Sophia quem escreveu o poema 25 de Abril, que se constituiu como um dos textos simbólicos da nossa
democracia, tantas vezes citado nesta Assembleia e hoje inscrito na fachada do Quartel do Carmo: «Esta é a
madrugada que eu esperava / o dia inicial, inteiro e limpo / onde emergimos da noite e do silêncio / e livres
habitamos a substância do tempo».
Em Sophia de Mello Breyner Andresen a poesia e a vida são inseparáveis. Como na sua obra, Sophia pôs
na sua vida uma fidelidade desassombrada, essencial à liberdade e à justiça; lutou contra a opressão com
uma resistência e uma dignidade exemplares.
Pertencendo ao grupo que ficou conhecido como dos Católicos Progressistas, reafirmou a
incompatibilidade radical de um regime político que negava a dignidade da pessoa humana e mantinha uma
guerra colonial com o cristianismo, que essa ditadura invocava como caução e suporte. A propósito disso,
Sophia falou de pecado organizado. A sua Cantata da Paz «Vemos, ouvimos e lemos / não podemos ignorar»,
tornou-se um hino de denúncia e acusação.
Depois do 25 de Abril, nunca deixou de estar presente onde o nosso destino comum estava em causa. Foi
Deputada à Assembleia Constituinte, interveio política e culturalmente com lucidez. Nos jornais, em
campanhas eleitorais, nas associações de escritores esteve presente com clareza, sem cedências nem
ambiguidades.
Em Sophia, a poesia não se opunha à política, porque para ela a poesia é uma inteireza e a política uma
consciência. Ambas são uma relação justa e verdadeira com as coisas e os homens; é nos tempos duros e
difíceis que devemos dar aos símbolos a força de um reencontro com o que fomos, o que somos e o que
queremos ser. É nestes momentos que a democracia deve procurar vigor nos grandes exemplos, nas grandes
mensagens, nas grandes obras, nas grandes vidas. O Panteão Nacional é o templo cívico da memória e do
exemplo; ali se projetam a História, os seus acontecimentos e figuras.
A dimensão humana de Sophia de Mello Breyner Andresen, a importância da sua obra, do seu pensamento
e da sua vida levam-nos a subscrever e a apoiar esta iniciativa parlamentar, capaz de honrar Sophia, capaz de
honrar o 25 de Abril e capaz de honrar a liberdade, como momento de reconhecimento do progresso e do
desenvolvimento que a democracia nos trouxe.
Aplausos gerais.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra, pelo PCP, o Sr. Deputado Miguel Tiago.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Sophia de Mello Breyner Andresen
alcançou com o verbo uma dimensão que vai além daquela que possamos expressar, ou mesmo escrever,
como na justíssima exposição de motivos do projeto de resolução que todos os grupos parlamentares
subscrevem e agora votam.
A poeta elevou as palavras à altura da mais essencial poesia. Num espaço próprio de teor vibrante, numa
forma clássica, criou alguns dos mais belos versos da história da literatura portuguesa e ilustrou com o seu
próprio sopro artístico o momento maior da história contemporânea do nosso povo, o 25 de Abril de 1974