21 DE FEVEREIRO DE 2014
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porque é que a atuação do Ministério do Ambiente foi a de fazer exatamente aquilo que não se deve fazer, que
só em último caso se faz — a remoção por meios mecânicos.
Ou seja, para que nos entendamos, o que não pode ser feito com fósseis é o que foi feito neste caso. É
preciso que não continue assim, é preciso preservar-se os fósseis no espaço onde eles estão, é preciso que
seja classificada a Praia Jurássica de São Bento, em Porto de Mós, e é preciso que o caso seja acompanhado
e estudado.
O Bloco de Esquerda acompanha e saúda o projeto de resolução aqui apresentado. Julgamos ser muito
importante colocar no acompanhamento desta situação a ideia do estudo académico, do estudo científico dos
fósseis, e julgamos mesmo que se deve propor a sua classificação. Não há grandes dúvidas e, portanto, esse
processo deve avançar rapidamente.
O que aconteceu com esta Praia Jurássica deve fazer-nos pensar num problema mais vasto do ponto de
vista da legislação que temos em Portugal. A proteção do património paleontológico não está salvaguardada
nem legislada, exceto no caso de parques e reservas, e esse é um dos problemas com que nos deparamos
num País em que há tantos fósseis, em que há uma riqueza tão grande e onde tem existido permanentemente
quase um saquear de fósseis, que prejudica a investigação científica e o acesso ao património natural e
geológico.
Portanto, julgo que não só é importante aprovar este projeto de resolução como também que seria tempo
de aqui, na Assembleia da República, nos debruçarmos sobre as falhas de legislação nesta matéria.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Tiago, do PCP, para uma intervenção.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Em primeiro lugar, em nome do Grupo
Parlamentar do Partido Comunista Português, gostaria de saudar o Partido Socialista pela apresentação do
projeto de resolução sobre a preservação e salvaguarda da Praia Jurássica recentemente identificada em
Porto de Mós.
Sobre esta questão, para o PCP é importante referir — e agradeço ao PSD a cronologia que aqui nos
trouxe dos acontecimentos e das diligências já tomadas pelas instituições — que não cabe nem à Assembleia
da República nem aos Deputados determinarem aquilo que deve ou não deve ser classificado do ponto de
vista do seu interesse cultural ou científico, todavia é justo que esta Assembleia intervenha para salvaguardar
o cumprimento da lei e para salvaguardar o património sempre que estejam ameaçados. Por isso mesmo,
sobre esta matéria, é importante garantir que a preservação do património e mesmo o seu estudo sejam
realizados de acordo com as necessidades.
Não temos aqui instrumentos — pelo menos o PCP não tem — para dizer se o contexto permitia ou não o
estudo in situ. Sabemos que esse estudo é desejável, mas não sabemos qual o contexto com que foram
confrontados os profissionais do LNEG ao chegarem ao local e ao verificarem a ausência ou a presença de
condições para o fazerem.
É também prudente que nos abstenhamos de fazer comentários sobre o cuidado e o brio profissional dos
que terão levado ou que estão a levar a cabo o estudo deste património. No entanto, é justo dizer que estes
profissionais do LNEG e no ICNF trabalham em condições que carecem de melhorias urgentes. É justo dizer
que o fazem com poucos recursos, com poucos meios para se deslocarem ao território, para estarem lá
presentes, e é justo dizer que o fazem num contexto de desvalorização do seu trabalho e com cada vez menos
colegas para trabalhar e para realizarem essa tarefa com as devidas salvaguardas do interesse da população
local e da própria preservação do bem em causa, neste caso paleontológico, devidamente previsto na Lei de
Bases do Património Cultural.
Acompanhamos, no essencial, o projeto de resolução do Partido Socialista, mas não sem fazermos estas
críticas ao seu preâmbulo e à sua exposição de motivos e com algum distanciamento sobre a forma como é
julgada ou mostrada, através de fotografias, a adequação ou não da remoção, que é um instrumento que pode
ser utilizado — os técnicos, no local, terão sabido julgar.
Não há nenhum impedimento para que a autarquia não possa acompanhar o desenvolvimento dos
trabalhos pelas instituições competentes, mas é importante não confundir que quem tutela o património