I SÉRIE — NÚMERO 52
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paleontológico não são as autarquias, em primeira instância, sendo isso importante para a salvaguarda do
próprio património.
Aliás, só pode haver mais-valia no desenvolvimento de um projeto integrado se se ajustar à identificação,
inventariação e eventual classificação daquele património, que é, do nosso ponto de vista, um critério
essencialmente científico, e a ponderação da classificação decorre da aplicação da lei, que esperamos que o
Governo respeite, ao contrário do que faz em relação a outros casos. É bom que se diga que o Governo tem
pouco respeito pela Lei de Bases do Património Cultural e que o PS faz bem em chamar a atenção para que o
Governo a cumpra neste caso, porque é importante.
Não temos, até agora, indicação de que o Governo não a esteja cumprir, mas com este Governo fica
sempre bem avisar, antes que se concretize o ilícito, como se veio a verificar em relação a outros casos —
ainda há pouco tempo discutimos as obras de Miró, por exemplo.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Manuel Isaac, do CDS-PP.
O Sr. Manuel Isaac (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O projeto de resolução
apresentado hoje pelo PS, que recomenda ao Governo medidas de proteção e de valorização da Praia
Jurássica de S. Bento, em Porto de Mós, é um bom exemplo de uma iniciativa em que a demagogia desvirtua
a realidade dos factos e passa uma imagem errada sobre a forma como o Governo tem gerido o património
geonatural do País.
Senão, vejamos: se tivessem consultado a Sr.ª Diretora do Parque Natural das Serras de Aire e
Candeeiros, Dr.ª Maria de Jesus, uma ilustre socialista, talvez não tivessem usado essa demagogia e talvez
tivessem tomado conhecimento do acompanhamento que tem sido feito tanto pela autarquia como pela Junta
de Freguesia de S. Bento.
Mas vamos aos factos e aos esclarecimentos que corrigem a exposição de motivos deste projeto de
resolução.
Os primeiros achados foram encontrados em 2003 e, desde essa data, a jazida foi acompanhada de perto
pelos técnicos do Parque Natural de Serras de Aire e Candeeiros e da Câmara Municipal e não apenas por
estes últimos, como refere o projeto do PS, no âmbito do regime jurídico de pesquisa e de exploração de
massas minerais pedreiras.
Desde então, e até à data, tem sido desenvolvido um acompanhamento de monitorização permanente
dessa jazida. Vai havendo pareceres de especialistas e investigadores do INETI/LNEG, mas destaco um
parecer de um especialista do Museu de História Natural de Londres, o Sr. Prof. Andrew Smith, que evidencia
a raridade e o extraordinário interesse patrimonial do achado.
No contexto destas visitas técnicas realizadas à pedreira, em julho de 2006 verificou-se que a exploração
de inertes apresentava várias escombreiras espalhadas sobre a laje, com fósseis que apresentavam sinais de
degradação por exposição aos agentes de erosão físicos e químicos, bem como à maquinaria que laborava na
pedreira.
Assim, na sequência dessa visita, sustentada pelo estudo de impacte ambiental realizado às explorações
de calçada portuguesa e outras mais do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, que inclui a pedreira
de Cabeço da Ladeira, foi emitida para esta exploração uma declaração de impacte ambiental em 20 de março
de 2007, onde consta que, devido à vulnerabilidade dos fósseis, os mesmos deverem ser retirados, a fim de
serem preservados em lugar próprio e objeto de estudo e de conservação, uma vez que a sua conservação in
situ os torna vulneráveis à ação dos agentes e materialização de possíveis atos de vandalismo.
Mais uma vez o PS demonstra não se ter informado convenientemente quando refere, no seu projeto, que
a retirada de alguns exemplares de fósseis foi feita sem qualquer diálogo com as autarquias envolvidas,
designadamente tratando-se mesmo de um verdadeiro atentado ao património geonatural.
Precisamente para salvaguardar e preservar este legado cultural, agiu-se em conformidade com a referida
declaração de impacte ambiental.
Vozes do CDS-PP: — Bem lembrado!