8 DE MARÇO DE 2014
37
A Sr.ª Catarina Marcelino (PS): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Discutimos hoje uma petição
que pede para acabar com o aborto gratuito. Esta petição é subscrita por peticionários que fazem parte de
movimentos que, na altura do referendo da interrupção voluntária da gravidez, eram conhecidos como os
«movimentos do não» e que são os movimentos radicais pró-vida. É disso que se trata e esta petição tem
apenas um objetivo: recolocar a questão da interrupção voluntária da gravidez e do aborto na agenda política.
É esse o objetivo — temos de ser claros.
Quanto à petição em si e à matéria que encerra, julgo que a Deputada Rita Rato já aqui abordou uma das
questões fundamentais ao referir um parecer da Direção-Geral de Saúde que diz que o aborto em Portugal
diminuiu. Diminuiu ao fim de 30 anos de luta e porque conseguimos acabar com o aborto ilegal em Portugal. É
disto, Sr.as
e Srs. Deputados, que se trata aqui.
Esta petição vem pedir uma coisa que não é possível, que não faz sentido na lei portuguesa. E passo a ler
rapidamente uma parte do parecer do Ministério da Saúde: «A mulher grávida está isenta do pagamento de
taxas moderadoras. Na primeira consulta, e durante o período de reflexão, a mulher está grávida, podendo
desistir de efetuar a interrupção da gravidez e decidir levar a gravidez a termo, pelo que faz sentido que se
inclua na exceção de pagamento das taxas moderadoras. Por outro lado, e no correr deste processo, está
prevista uma consulta de revisão a realizar no prazo máximo de 15 dias após a interrupção da gravidez. Ora,
esta consulta de revisão tem dois objetivos: verificar se a interrupção da gravidez foi completa e assegurar a
disponibilização de um método anticoncecional. Por isso, enquadra-se numa consulta de planeamento familiar
e, como tal, também está isenta de taxa moderadora.»
Como diz a Ordem dos Enfermeiros, também num parecer seu, esta é uma não-questão. Esta questão não
se coloca. Esta questão não faz sentido.
Aplausos do PS.
Para terminar, quero, apenas, dizer o seguinte: como afirmei inicialmente, o objetivo desta petição é o de
reabrir o debate. Por isso, quero aqui afirmar, perante todas e todos vós, que para isso não contem com o
Partido Socialista, porque não vamos entrar novamente nesse debate.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Helena Pinto.
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Mais de 4000 cidadãos e cidadãs
dirigem uma petição ao Parlamento com o objetivo principal de passar a ser aplicada uma taxa moderadora à
interrupção voluntária da gravidez.
Antes de me referir aos argumentos invocados, que o Bloco de Esquerda não acompanha, quero sublinhar
um aspeto que é fundamental para esta bancada: amanhã é o Dia Internacional da Mulher e não podemos
esquecer os milhares de mulheres que, no mundo, perdem a vida em consequência de aborto inseguro e de
aborto clandestino.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Não podemos esquecer os milhares de mulheres que morrem devido a
complicações surgidas no parto e no pós-parto. A saúde materna não existe para milhares de mulheres.
Felizmente, Sr.as
e Srs. Deputados, em Portugal, podemos afirmar que ultrapassámos esta situação com a
despenalização do aborto em 2007. Através do voto popular, em referendo, deu-se um passo significativo em
prol da defesa da saúde das mulheres. Basta ver os números das ocorrências clínicas de complicações por
aborto — sempre dissemos que acabar com o aborto clandestino é defender a saúde das mulheres.
Os peticionários consideram que a interrupção voluntária da gravidez é financiada, comparticipada,
subsidiada pelo Estado português. Esta é, de facto, uma visão muito exagerada e que não corresponde, de
todo, à realidade. Os cuidados de saúde no âmbito da saúde sexual e reprodutiva estão isentos de taxa
moderadora. É o Ministério da Saúde que o diz, e assim se devem manter.