I SÉRIE — NÚMERO 66
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Por outro lado, desde que este Governo entrou em funções os preços subiram 19% e a promessa garantida
pelo Governo é a de termos novos aumentos anuais de, pelo menos, 1,5% acima dos valores da inflação.
Portanto, Portugal é, hoje, um dos países em que a eletricidade mais pesa no rendimento das famílias, e
vai continuar a pesar. Os rendimentos das famílias são cada vez mais curtos, são cada vez mais baixos e o
preço da eletricidade é cada vez mais alto. Isso explica as notícias e os dados que temos de que cada vez
mais famílias são incapazes de pagar a conta da eletricidade, cada vez mais famílias são incapazes de ter
aquecimento neste inverno tão rigoroso. Esta também é uma das causas do aumento do empobrecimento em
Portugal.
A pergunta que temos de fazer é esta: por que é que a eletricidade é tão cara em Portugal? Por que é que
pagamos tanto e por que é que vamos continuar a pagar tanto no futuro? Sr.as
e Srs. Deputados, a resposta é:
défice tarifário.
É bom que possamos esclarecer que défice é este. As pessoas pagam a sua conta à EDP, as pessoas
pagam os seus impostos e ainda por cima devem 5500 milhões de euros por este défice? São 1043 € a cada
consumidor de eletricidade em Portugal.
O défice tarifário é uma invenção, uma invenção criada para tornar o negócio da produção e da venda de
energia rentável aos privados.
Basicamente, o que aconteceu foi que, pela necessidade de atrair operadores privados, se criaram
contratos que garantiam a estes operadores taxas de rentabilidade muito acima das taxas de rentabilidade do
mercado, ou seja, garantiram-se preços mais altos e a compra garantida da eletricidade produzida. E isto para
os operadores privados poderem ficar com a rentabilidade e nunca assumirem o risco do investimento que
fizeram.
Chegou-se a um momento em que as rendas pagas a estes produtores eram de tal forma elevadas que
houve necessidade de começar a chutar para a frente, passe a expressão, o peso destas rendas.
Esta é a razão da dívida tarifária. A dívida tarifária é o chutar para a frente de rendas aos operadores
privados.
Neste momento, esta dívida de 5500 milhões de euros é em 97% uma renda à EDP. A EDP pega nesta
dívida tarifária e vende-a nos mercados financeiros obtendo lucro. A dívida tarifária é um mecanismo imoral de
transferir rendimento das famílias para a EDP.
É por isso que apresentamos aqui um projeto que visa eliminar, anular a dívida tarifária.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para apresentar o projeto de resolução n.º 988/XII (3.ª), tem a
palavra o Sr. Deputado Bruno Dias, do PCP.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: O PCP apresenta o projeto de resolução n.º
988/XII (3.ª), pela eliminação do défice tarifário no setor da energia elétrica em defesa do interesse nacional.
Na génese do chamado «défice tarifário», estão duas principais razões: em primeiro lugar, a privatização
do sistema electroprodutor, seja no que respeita à privatização da EDP, seja no que respeita à entrada de
grupos privados, particularmente na produção eólica; e, em segundo lugar, decorrente da anterior, o
desmantelamento orgânico e metodológico do planeamento energético estatal em Portugal com a destruição
do Plano Energético Nacional e da equipa que o operacionalizava.
Aliás, importa recordar que foi o Governo PSD/Cavaco Silva, para tornar a venda da EDP mais aliciante,
que criou os contratos de aquisição de energia (CAE), contratos leoninos em favor da EDP, entretanto
privatizada, e depois, os seus sucessores, os contratos de manutenção do equilíbrio contratual (CMEC) que
apresentam características idênticas. Foi assim que nasceram os famosos CAE e CMEC!
Por outro lado, o Governo do PS aprovou novos contratos com o argumento da atratividade financeira ao
investimento, e foi assim que chegámos ao que temos hoje.
As circunstâncias financeiras criadas pelos CAE e CMEC e pelas tarifas da produção em regime especial
foram sendo repercutidas sobre o valor das tarifas pagas pelos consumidores até ao momento em que a
situação se tornou completamente insustentável para toda a gente menos para os grupos económicos que
detêm esta produção energética.