28 DE MARÇO DE 2014
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Quais são as propostas concretas que o PCP apresenta?
Em primeiro lugar, para estancar o incremento da dita «dívida» resultante de sucessivos défices tarifários,
propomos que sejam revistas, completa e urgentemente, as condições e enquadramentos remuneratórios da
produção de eletricidade, seja em regime ordinário (CAE e CMEC) seja em regime especial, que estão na
origem do aparecimento e crescimento do défice tarifário.
Em segundo lugar, defendemos que a dívida remanescente, após a aplicação da proposta anterior, deve
ser absorvida pelas empresas produtoras ou comercializadoras de eletricidade que, ao longo dos anos,
beneficiaram (e de que maneira!…) com o enquadramento legal e regulamentar.
Em terceiro lugar, essas novas condições deverão conciliar a viabilidade económico-financeira das
empresas com a defesa e a dinamização da economia, particularmente das micro, pequenas e médias
empresas e as condições de vida das populações.
Finalmente, a absorção da dívida remanescente pelas empresas produtoras ou comercializadoras, deverá
ter por base planos de amortização ajustados às suas condições produtivas e económico-financeiras
concretas proporcionalmente ao défice gerado no seu seio.
Como afirmamos no nosso projeto de resolução, os sucessivos aumentos das tarifas, os lucros imensos
das empresas e o valor acumulado do défice tarifário são ameaças brutais, a juntar a tantas outras que
pendem sobre a nossa economia e sobre as condições de vida do nosso povo.
Por isso, urge romper completamente com as políticas que geraram a atual situação.
Os diferimentos anuais, com que os governos vão empurrando o défice para o futuro, não resolvem nada,
pois não eliminam as condições de origem; bem pelo contrário, fazem crescer essa dívida, como se viu no
Orçamento do Estado para 2014.
Nós até podemos ter todos os meses ou todos os dias a conversa dos cortes nas rendas excessivas no
sector energético; o problema é que os mecanismos e as regras que provocam a existência dessas rendas
excessivas mantêm-se intocados — isso mesmo foi evidenciado, muitas vezes, nas audições da Comissão de
Economia, mais recentemente, por exemplo, com a Autoridade da Concorrência.
Perante isto, é urgente avançar com medidas concretas, desde logo aquelas que o PCP acaba de
apresentar e de propor.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Mota
Andrade, do PS.
O Sr. Mota Andrade (PS): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O défice tarifário resulta de decisões
do Governo que visam alisar aumentos dos custos da eletricidade, através da cooptação e da alteração das
propostas feitas pelo regulador.
Em 2008, face ao elevado pico nos preços da eletricidade, houve uma decisão política, votada por
consenso nesta Casa, de limitar artificialmente o aumento do preço da eletricidade, facto que criou um défice
de cerca de 2000 milhões de euros.
Pela sua natureza, o défice tarifário tem de ser pago pelos consumidores, que consumiram eletricidade a
um preço inferior e que, posteriormente, têm de compensar o desvio.
Em nosso entendimento, o que deve ser discutido é a razão pela qual se gera tanto défice tarifário e por
que é que este Governo tem incrementado esse défice.
O aumento do défice deve-se, em parte, à enorme diminuição do consumo — e lembro que estamos ao
nível de 2006 — e, por este facto, os investimentos feitos na rede de transporte da REN devem ser reduzidos
ao mínimo indispensável de forma a garantir os níveis de qualidade dos serviços regulamentados.
De realçar que, no caso da REN, esses níveis são muito elevados e como tal não necessitam de mais
investimento, sendo que apenas em 2020, se tudo correr razoavelmente bem, teremos o mesmo consumo de
energia elétrica que tínhamos em 2010.
O Governo recebeu, quando tomou posse, um défice aproximado de 1800 milhões de euros e o aumento
do IVA para 23% também muito ajudou a colocar o défice numa situação muito crítica. A remuneração do
capital está este ano no valor médio de 9% e este valor deve baixar para o valor anterior à crise.