I SÉRIE — NÚMERO 81
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A Sr.ª Deputada Elsa Cordeiro falou do progresso como outros falam da luz ao fundo do túnel, como outros
falam dos milagres económicos, como outros falam das previsões, como era o caso do ex-Ministro das
Finanças. Eu acho que isto é mais preocupante, porque a mentira começa a ser compulsiva face àquilo que se
está a verificar.
Deixava-lhe já uma pergunta: com tanto progresso, como é que explica que os portugueses continuem a
empobrecer? Se calhar, é por causa do progresso. Se calhar é melhor regredir.
A Sr. ª Deputada também falou das receitas. Está a fazer mal as contas, mas já lá vamos.
Quando o Governo decidiu agravar a taxa do IVA no setor da restauração toda a gente, menos o Governo
e a maioria, percebeu a natureza recessiva desta medida; toda a gente, menos o Governo e a maioria, mediu
as consequências desastrosas deste erro profundamente lamentável. Vozes de todos os setores, inclusive de
pessoas que conheciam muito bem o setor, como é o caso do atual Ministro da Economia quando ainda não
era um soldado obediente, vieram a público mostrar a dimensão do disparate que o Governo estava a cometer
com esta medida. Mas o Governo fez ouvidos de mercador e continuou nas suas certezas sustentadas nas
previsões que todos conhecemos.
Os Verdes já na altura se opuseram a esta medida e apresentaram em várias ocasiões propostas no
sentido de reporem a taxa do IVA da restauração nos 13%. O Governo e a maioria não quiseram saber e hoje
creio ser altura de a maioria tomar consciência do erro que tem vindo a cometer.
Sr.ª Deputada, quanto às receitas, o Governo não diz nada. Quando se pergunta ao Governo quais são os
reflexos desta medida em termos de receitas fiscais, o Governo não diz. Os dados disponíveis que existem, e
que certamente conhece, não dizem o que a Sr.ª Deputada disse.
Entretanto, assumiu a presidência o Vice-Presidente Guilherme Silva.
O Sr. Presidente: — Faça favor de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Vou terminar, Sr. Presidente.
A manutenção do IVA na restauração na taxa normal por enquanto nos 23% representou em 2013 uma
receita adicional para o Estado de apenas 399 milhões de euros. Mas o impacto financeiro negativo para o
Estado em 2013 deve ter-se situado em 854 milhões de euros. Ou seja, feitas as contas, o Estado ficou a
perder, nada mais, nada menos, do que 455 milhões de euros só em 2013. É só fazer as contas! Só temos de
subtrair os 399 milhões de euros que entraram aos 854 milhões de euros que se perderam para se ficar a
perceber que, afinal, acabámos por perder 455 milhões de euros.
Pensei que havia alguma flexibilidade por parte da Mesa, mas vou terminar dizendo…
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Mais sensibilidade, Sr. Deputado?
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sim, Sr. Presidente, à semelhança do que tem vindo a acontecer
até aqui com as perguntas.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de continuar, Sr. Deputado.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr.ª Deputada Elsa Cordeiro, já que se fala em saída limpa (e
vou também sair de forma limpa desta pergunta), os senhores criaram um problema — Os Verdes estão a
causar-lhes um problema para saírem de forma limpa do problema que criaram.
Aplausos do PCP e de Os Verdes.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Ainda para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado
Pedro Nuno Santos.