I SÉRIE — NÚMERO 92
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O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Não há dúvidas de que este
Governo pretende prosseguir uma política inconstitucional, pretende, a todo o custo, levar por diante uma
política de saque aos rendimentos de quem trabalha, de saque de salários, de pensões, de reformas, de
subsídios de desemprego e de subsídios de doença, e uma política de aumento dos impostos.
Se dúvidas houvesse, aquilo a que assistimos ontem, com as conclusões do Conselho de Ministros,
confirmam isto mesmo: este Governo pretende prosseguir contra a Constituição, contra todas as regras do
regime democrático, uma política que é inconstitucional e que não tem mandato para executar. E, pretendendo
prosseguir uma política inconstitucional, contra o regime democrático e que não tem mandato para executar, o
Governo decide afrontar todas as regras de funcionamento desse regime e decide adotar uma estratégia de
confronto com os órgãos de soberania, nomeadamente com o Tribunal Constitucional.
Aquilo a que assistimos nos últimos dias, em particular àquilo que resultou da discussão que tivemos em
Conferência de Líderes, é, para o PCP, inaceitável, porque trata-se de uma estratégia em que o Governo
procura instrumentalizar e governamentalizar a Assembleia da República, utilizando-a como arma de
arremesso contra outro órgão de soberania, o Tribunal Constitucional.
Esta é uma decisão, Sr.ª Presidente, que, na sua substância, nenhum Estado de direito democrático pode
admitir. E, por ser uma decisão incompatível com o respeito pelo Estado de direito democrático, a maioria teve
de sequestrar as regras de funcionamento regular das instituições, sequestrar as competências do Plenário da
Assembleia da República e impor, na Conferência de Líderes, uma decisão que não tinha possibilidade de
assumir, inclusivamente contra a decisão que a Sr.ª Presidente da Assembleia da República assumiu de não
admitir essa proposta.
Sr.ª Presidente, aquilo que trazemos hoje a Plenário, com o recurso desta decisão — em primeiro lugar, da
decisão tomada na Conferência de Líderes de aí deliberar, mas, sobretudo, da decisão substancial de afrontar
o Tribunal Constitucional por intermédio da Assembleia da República —, é não só a defesa do regime
democrático como também a defesa da Constituição e do regular funcionamento das instituições.
Não haverá dúvidas, Sr.ª Presidente, de que este Governo não só governa contra a Constituição como põe
em causa o regular funcionamento das instituições.
Vozes do PCP: — Muito bem!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Essa circunstância está prevista na nossa Constituição e exige a tomada de
medidas por parte do Sr. Presidente da República, demitindo o Governo, dissolvendo a Assembleia da
República e convocando eleições antecipadas.
Um Governo que não respeita a Constituição nem o regime democrático tem de ser travado.
Aplausos do PCP e de Os Verdes.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares, do Bloco
de Esquerda.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O Governo está zangado com
a Constituição e procura vingar-se dela atacando o Tribunal Constitucional, utilizando a Assembleia da
República como arma de arremesso. É disso que estamos a falar, e o recurso que apresentamos tem tudo a
ver com isso.
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Tem zero a ver com o que está a dizer!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — A maioria está a ser parte desta guerra que o Governo quer fazer
contra o Tribunal Constitucional. Não tinha legitimidade para impor aquilo que impôs na Conferência de
Líderes, e por isso aqui recorremos dessa imposição; não tinha razão, e por isso a Sr.ª Presidente não quis
aceitar o documento apresentado pela maioria. Não tendo a força da razão, quis fazer força dos seus votos
nesta Assembleia para impor a sua vontade.