21 DE JUNHO DE 2014
5
só o princípio. Diz a Sr.ª Juíza: «Entendo que com esta decisão o Tribunal restringiu indevidamente a
liberdade de conformação política do legislador ordinário, e que o fez de forma tal que da sua argumentação
se não pode extrair qualquer critério material percetível que confira para o futuro uma bússola orientadora
acerca dos limites (e do conteúdo) da sua própria jurisprudência.».
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Protestos do Deputado do PS José Junqueiro.
Sr. Deputado, a afirmação da Sr.ª Vice-Presidente do Tribunal Constitucional mostra que entre os juízes do
Tribunal não existe uma unanimidade quanto aos termos em que o Tribunal tem apreciado as matérias que o
Parlamento tem aprovado. E há mesmo uma Sr.ª Vice-Presidente que diz, claramente, duas coisas, primeira,
que há uma invasão da esfera legislativa através desta decisão do Tribunal (é a Sr.ª Vice-Presidente do
Tribunal Constitucional quem o diz) e, segunda, que os termos em que o Tribunal se pronuncia não deixam
uma orientação clara para o legislador saber como se conformar com as decisões do próprio Tribunal.
Ora, Sr. Deputado, penso que isto deve deixar-nos refletir, a nós e, espero eu, aos Srs. Juízes do Tribunal
Constitucional, porque, aqui, Sr. Deputado, o problema não é o que o Governo ganha ou perde, o que o
Parlamento ganha ou perde. Aqui, o que está em causa, Sr. Deputado, é uma questão jurídico-constitucional
da máxima importância, que é a de saber em que medida pode o Parlamento ou o Governo fazer um jogo de
olhos vendados,…
O Sr. António Gameiro (PS): — Vendados não, a visão é clara!
O Sr. Primeiro-Ministro: — … em que o próprio Tribunal considera que nós devemos acertar, ir ao
encontro das suas recomendações, quando elas vão variando em função das circunstâncias. E isto, Sr.
Deputado, é uma matéria da máxima importância.
A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Finalizo, dizendo ao Sr. Deputado que a Dr.ª Teresa Leal Coelho, que é
Deputada no Parlamento e também minha Vice-Presidente no PSD, não declarou que os juízes eram bons ou
maus, conforme concordassem ou discordassem da perspetiva da maioria no contexto da integração europeia.
Não, Sr. Deputado! O que ela disse foi uma coisa diferente, disse que os juízes estão sujeitos a escrutínio,
como todos os agentes numa democracia, e que, se não estão disponíveis para escrutínio, não têm condições
para o exercício desses lugares. Isto foi dito numa entrevista que foi publicada, e eu não posso estar mais de
acordo, Sr. Deputado.
O Sr. António Braga (PS): — Onde é que ela disse isso?
O Sr. José Junqueiro (PS): — Disse que iam ser despedidos!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Em segundo lugar, a Sr.ª Deputada Teresa Leal Coelho, que, de resto, é
Deputada e, por isso, intervirá neste debate, se o entender e quando o entender, como já fez no passado,…
A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Vou concluir, Sr.ª Presidente.
Como eu dizia, a Sr.ª Deputada Teresa Leal Coelho disse também uma outra coisa, que é muito importante
termos a noção de como é que o Tribunal Constitucional entende as obrigações do Estado português no
contexto da sua participação na zona euro e da União Europeia. E, Sr. Deputado, eu também aqui não posso
deixar de a acompanhar completamente.