I SÉRIE — NÚMERO 99
18
O elevado grau de concentração da propriedade a que hoje se chegou faz com que a informação, o
conhecimento e o entretenimento mediáticos sejam controlados por um pequeno núcleo de pessoas e
entidades representativos de uma camada social a que poderíamos chamar dos mais ricos entre os muito
ricos.
Vozes do PCP: — Exatamente!
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — No que às relações laborais diz respeito, a concentração tem levado à
destruição do emprego, como recentemente ocorreu no grupo Controlinveste com o despedimento coletivo de
160 trabalhadores (140 por despedimento coletivo e 20 por rescisões amigáveis), à precarização e à
fragilização das relações laborais.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Bem lembrado!
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — Para o PCP, a melhor forma de contribuir para a garantia da democracia é a
defesa de um setor de comunicação social pluralista, democrático e responsável.
Para o PCP, é importante a defesa da independência dos órgãos de comunicação social face ao poder
económico, designadamente impedindo a concentração monopolista das empresas de comunicação social, a
garantia dos direitos dos jornalistas e de outros profissionais de informação e o seu respeito pelos princípios
éticos e deontológicos.
Mas estas garantias, Srs. Deputados, não serão alcançadas com esta política. Só uma outra política
permite, de facto, que estas garantias sejam cumpridas. Falo de uma política que pugne pela existência, a par
de órgãos de informação privados, de um sector público de comunicação social, abrangendo os diversos
meios de informação — designadamente a televisão, a rádio e a imprensa — que, pelo seu estatuto
constitucional e legal, seja independente do Governo, dos partidos e do poder económico e esteja
especialmente vinculada à garantia do pluralismo e da expressão e do confronto das diversas correntes de
opinião.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Também para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Raúl de
Almeida.
O Sr. Raúl de Almeida (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Voltamos hoje a discutir, pela
segunda ou terceira vez nesta Casa, projetos que se prendem com a transparência da propriedade dos órgãos
de comunicação social.
O CDS sempre disse, e repete, que sempre esteve do lado da transparência, que sempre esteve disponível
para discutir a transparência. Houve, no passado, divergências no tempo e no modo; houve, no passado,
necessidade de deixar que legislação que então existia há um ano, da última vez que discutimos isto, em
2012, fizesse o seu caminho, a nível da rádio e da televisão; e há necessidade de um amadurecimento da
legislação, de que a legislação faça o seu caminho para se poder fazer um balanço sério, escorreito, que nos
possa dar um quadro do setor.
Compreendemos e aceitamos que, de facto, há necessidade de que aquilo que é feito a nível da rádio e da
televisão, e que cumpre as melhores práticas a nível europeu, seja também estendido à imprensa escrita, seja
também alvo de uma articulação geral em todos os meios de comunicação social. Por isso, estamos, de forma
muito clara, disponíveis para, amadurecidamente, fazermos aqui, em conjunto, uma reflexão sobre esta
matéria, que deve produzir frutos.
Nesse sentido, é necessário criarmos, de uma vez, com robustez, com durabilidade, legislação que possa
abranger os diferentes meios de comunicação social, que possa olhar as boas práticas que temos, a nível de
rádio e televisão, mas que também deva olhar para a articulação com a Entidade Reguladora para a
Comunicação Social, que não cause sobreposição ou zonas cinzentas, que contemple uma clareza de
competências e que seja abrangente.