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I SÉRIE — NÚMERO 99

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Creio que o âmago deste projeto de resolução não se cinge apenas aos ambientes educativos, mas,

verdadeiramente, numa preocupação para uma mudança na consciência da sociedade como um todo e por

isso acompanhamos o projeto de resolução.

É certo que a crise económica, quer mundial, quer nacional, como já foi referido, é sempre o momento de

contraponto das opções, porque se coloca, de um lado da balança, preocupações ambientais e de

desenvolvimento sustentável, ideias estratégicas nas escolhas da tomada de decisão, e, do outro lado, umas

vezes, a subsistência de determinada atividade económica, outras vezes, desvaloriza-se o respeito, quer pelo

desenvolvimento sustentável, quer por vertentes sociais, ambientais ou com outro cariz redistributivo mais

económico. Ora, estas escolhas são chantagens recorrentes. Sempre que há uma crise colocam-se na gaveta

preocupações anteriores, e o mesmo aconteceu a nível internacional e nacional.

Oiça-se, por exemplo, as palavras do anterior Ministro da Economia quando dizia que era impossível, em

Portugal, ter um desenvolvimento económico harmonioso quando tínhamos de cumprir as regras, também elas

sobre ambiente e desenvolvimento, que outros países não tinham de cumprir.

Aqui se demonstra como há escolhas que são colocadas na gaveta quando mudam os tempos

económicos, porque se percebe que elas não são raiz de identidade na sua atuação, mas, sim, respostas

circunstanciais de quem percebe que, na sociedade, há um clamor por uma outra elevação da consciência,

que tenta acompanhar mas que não quer resolver verdadeiramente nenhum problema.

Da nossa parte, acompanhamos o projeto de resolução, porque acreditamos que ele caminha na resolução

deste problema, mas também tem de dar um passo nesta reflexão. É que, de facto, o problema de um

desenvolvimento que seja verdadeiramente harmonioso não é enquadrável no modelo capitalista de

desenvolvimento, que é aquele que tem sido levado por diante, como está provado à saciedade, com todos os

atropelos, com todas as prioridades que são dadas ao negócio e muito menos à consciência e ao

desenvolvimento sustentável.

Por isso, saudamos a iniciativa e concluo dizendo que este é um debate e um percurso que tem de ser

trilhado com celeridade.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa

Apolónia.

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados, se me permitem, dirijo-me

diretamente ao Sr. Deputado Miguel Tiago para lhe dizer que apreciei imenso a sua intervenção porque acho

que levantou uma questão essencial, e peço a atenção das Sr.as

e dos Srs. Deputados do PSD e do CDS-PP,

porque isto interessa-vos!

Risos do PSD e do CDS-PP.

Srs. Deputados, ou toma-se a sustentabilidade e o desenvolvimento sustentável como um termo para

encher discursos, que foi aquilo que os senhores agora aqui fizeram, ou toma-se como uma coisa séria. E,

para tomar este termo como uma coisa séria, temos de navegar um pouco mais além daquilo que o próprio

Relatório Brundtland refere sobre o desenvolvimento sustentável e temos de perceber que este capitalismo

absurdo e este crescimento económico delapidador de tudo e mais alguma coisa é incompatível com bons

padrões sociais e ambientais.

Portanto, falar de sustentabilidade é tentar «coser» estes três pilares: o económico, o social e o ambiental.

Porém, isto é impossível quando o pilar económico sai disto tudo e toma a hierarquia de tudo e mais alguma

coisa, e é dessa leitura que os senhores não conseguem sair.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Muito bem!

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Imaginemos o povo, a população, a perceber o que é isto de

sustentabilidade. Mas os senhores não querem! E não querem porquê? Porque uma população informada é