I SÉRIE — NÚMERO 104
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Em votação final global, vamos votar o texto final, apresentado pela Comissão de Orçamento, Finanças e
Administração Pública, relativo à proposta de lei n.º 232/XII (3.ª).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD e do CDS-PP, votos contra do PCP, do BE e
de Os Verdes e a abstenção do PS.
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Sr.ª Presidente, peço a palavra.
A Sr.ª Presidente: — Para que efeito, Sr.ª Deputada?
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Sr.ª Presidente, para anunciar que o Grupo Parlamentar do Bloco de
Esquerda entregará uma declaração de voto sobre este diploma.
A Sr.ª Presidente: — Muito obrigada, Sr.ª Deputada.
Srs. Deputados, sobre o texto final, apresentado pela Comissão de Agricultura e Mar, relativo ao projeto de
lei n.º 528/XII (3.ª) — Alteração à Lei dos Baldios (altera a Lei n.º 68/93, de 4 de setembro, com redação da Lei
n.º 89/97, de 30 de junho, que estabelece a lei dos baldios, altera o Estatuto dos Benefícios Fiscais, aprovado
pelo Decreto-Lei n.º 215/89, de 1 de julho, e efetua a nona alteração ao Regulamento das Custas Processuais,
aprovado pelo Decreto-Lei n.º 34/2008, de 26 de fevereiro) (PSD e CDS-PP), o PCP apresentou um
requerimento de avocação pelo Plenário, para discussão e votação, na especialidade, das propostas de
eliminação dos artigos 1.º a 6.º, 10.º, 11.º, 17.º, 22.º, 27.º, 33.º e 35.º da Lei n.º 68/93, de 4 de setembro, e das
propostas de alteração dos artigos 26.º e 29.º da mesma Lei, todos previstos no artigo 2.º do texto final.
Para apresentar o requerimento, tem a palavra o Sr. Deputado João Ramos.
O Sr. João Ramos (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: A devolução dos baldios aos povos foi uma
das mais importantes conquistas da Revolução de Abril para os povos serranos do Centro e do Norte do País.
Tal como as restantes conquistas da Revolução, a propriedade comunitária gerida e ao serviço dos povos
está hoje sob cerrado ataque. Estes ataques não são novos, foram quase 20 as iniciativas de diferentes
Governos para ir desvirtuando a Lei dos Baldios, publicada em 1976.
A vontade de jogar mão aos baldios é crescente, nomeadamente face às suas potencialidades florestais e
fundiárias e, mais recentemente, a outros recursos, designadamente os associados à produção energética.
A alteração à Lei dos Baldios que hoje votamos vai mais longe do que qualquer outra e apresenta aspetos
de grande gravidade. Desde logo, porque é justificada com falsidades que transferem as responsabilidades
dos Governos para as entidades gestoras de baldios.
Destacamos as alterações mais gravosas: altera-se o conceito de comparte, eliminando a referência aos
usos e costumes que permitem acomodar as especificidades de cada baldio e de cada comunidade que dele
usufrui. Sem o respeito por costumes ancestrais, criam-se condições para dificultar a gestão dos baldios;
depois, simplifica-se a extinção de baldios, nomeadamente eliminando a exigência de decisão judicial para que
ela ocorra; por último, esta lei abre a porta para o acesso dos baldios ao comércio jurídico, para já o
arrendamento, mas é uma abertura de porta.
Consideramos que estas alterações inaceitáveis vão contra os interesses dos povos e da propriedade
comunitária.
Por essa razão, o Grupo Parlamentar do PCP apresentou propostas de alteração ao projeto de lei e de
eliminação de alguns artigos, propostas que poderiam expurgar o projeto de lei das suas componentes mais
gravosas. Pela importância destas propostas, considerámos necessária a sua avocação para Plenário.
No decorrer das audições realizadas, foram levantadas sérias dúvidas relativas à conformidade de alguns
artigos com a Constituição da República Portuguesa e, nesse contexto, esta avocação, chamando estas
alterações para pronúncia do Plenário, faz ainda mais sentido.
Aplausos do PCP.