18 DE SETEMBRO DE 2014
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um disco comprado. A pergunta pode ser feita desta outra forma: quantos discos são vendidos a menos
porque os portugueses não andam com uma aparelhagem às costas para ouvir a música nos discos originais
que compraram?
O Sr. João Oliveira (PCP): — Boa caricatura!
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — A jurisprudência do tribunal europeu diz-nos que o legislador é
obrigado a avaliar esse prejuízo e, com base nisso, a estabelecer a compensação. Acho que é um pedido
simpático do tribunal europeu, mas acho que é impossível, porque é impossível avaliar o prejuízo que decorre
da existência da exceção à cópia privada.
O que o Governo fez — e acho que é positivo que isso exista — foi impor um teto máximo àquilo que é
pago em forma de compensação, no valor de 15 milhões de euros. E julgo que é importante que possamos,
em sede de especialidade ou, porventura, já hoje durante o debate, compreender como é que o Governo
obteve esse valor e, certamente em sede de especialidade, perceber como é que reagem a esse valor os
detentores de direitos. Refletido per capita na população portuguesa, comparando com outros países
europeus, ficaríamos com o terceiro ou o quarto valor mais elevado da Europa. Julgo, no entanto, que pode
haver boas razões para isso, importa é tentar percebê-las.
Para lá do valor total do prejuízo, é naturalmente muito importante perceber quais são os suportes e os
dispositivos que são taxados e qual é a sua relação com um putativo prejuízo. É contrário ao espírito da
Diretiva que se taxem aparelhos que não significam prejuízo. Mas, sobretudo, acho que é preciso garantir que
não se crie um sentimento de injustiça na população que leve as pessoas a percecionar que já podem, porque
pagam esta taxa, se a considerarem injusta, fazer pirataria dos conteúdos livremente. E acho que esse
sentimento já está a instalar-se nesta discussão antecipada e que a pirataria pode — aliás, num evidente
contrassenso para o interesse dos autores — ser já aumentada devido a isto.
Sr. Secretário de Estado, acho que há outras questões que, em sede de especialidade, poderemos
debater. Há só uma que julgo importante referir agora e que tem a ver com a forma como o Código do Direito
de Autor e dos Diretos Conexos proíbe a cópia privada, mesmo para fins privados, de obras protegidas por
medidas tecnológicas de proteção. Isto engloba, diria, 100% — mas desafio aqui quem quer que seja a
comprovar que não é assim — de tudo o que é produzido e vendido, em termos de filmes e de séries, em
Portugal. É que todos os filmes e séries produzidos em DVD têm exatamente medidas tecnológicas de
proteção, sendo, portanto, proibido — aliás, há uma pena de prisão para quem o faça — utilizá-los, mesmo
para fins lícitos, para cópia privada.
Julgo que o Parlamento deve ou alterar o Código do Direito de Autor e dos Diretos Conexos nessa alínea,
ou garantir que estas taxas não vão para artistas, editores e produtores de televisão e cinema, sob pena de
eles estarem a receber um valor sobre um benefício que não concedem aos utilizadores.
Por fim, Sr. Secretário de Estado e Srs. Deputados, o CDS não ignora que há um compromisso a que o
Governo chegou e que nos vincula naturalmente também a nós, CDS, enquanto maioria. No entanto, acho que
isso também não invalida que possamos analisar e debater estas matérias, em sede de especialidade, com
toda a abertura e, se necessário, alterar o diploma no sentido que o debate na especialidade indique.
Creio que o Sr. Secretário de Estado disse, esta semana, na televisão, que gostaria que a proposta de lei
estivesse tramitada até ao final do ano e acho que esse é um compromisso que o Parlamento conseguirá
acompanhar. Sendo certo que, enquanto bancada, acompanharemos também a evolução europeia nesta
matéria, se houver evolução exatamente até ao final deste debate na especialidade, recordando que o
Comissário eleito, o Sr. Juncker, já anunciou querer debruçar-se com muita rapidez sobre esta matéria e
possivelmente alterar esta e outras diretivas. Recordo também que a Comissão Europeia tem feito alguns
estudos, um dos quais, muito recente, de junho deste ano, da Charles River, dá conta que o prejuízo por cópia
privada é negligente. Se a Comissão agir em conformidade e optar por não dar razão aos lobbies aos quais
tem dado razão até hoje, no direito europeu, teríamos mais uma razão de orgulho por ter apoiado o Sr.
Juncker para Presidente da Comissão Europeia e naturalmente que o Parlamento saberia também agir em
conformidade.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.