18 DE SETEMBRO DE 2014
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Antes de iniciarmos este debate, cumprimento a Sr.ª Secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares e
da Igualdade e o Sr. Secretário de Estado da Cultura, que se encontram presentes.
Para abrir o debate e apresentar as três propostas de lei, dou a palavra ao Sr. Secretário de Estado da
Cultura.
O Sr. Secretário de Estado da Cultura (Jorge Barreto Xavier): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados:
Começo por cumprimentar VV. Ex.as
neste primeiro dia da 4.ª sessão legislativa da XII Legislatura.
O Governo aprovou, no passado dia 21 de agosto, em Conselho de Ministros, e de acordo com o seu
Programa, um conjunto significativo de propostas relativas ao direito de autor e aos direitos conexos: Plano
Estratégico de Combate à Violação do Direito de Autor e dos Direitos Conexos; proposta de lei da gestão
coletiva do direito de autor e dos direitos conexos; proposta de lei da cópia privada; proposta de lei relativa a
obras órfãs e Regulamento de Registo de Obras Literárias e Artísticas atinente ao registo de obra.
Não sendo alguns dos articulados referidos politicamente considerados complexos, a resolução do
Conselho de Ministros sobre a pirataria, a proposta de lei sobre gestão coletiva de direitos e a proposta de lei
sobre a cópia privada suscitam reflexões na sociedade portuguesa, mas também no contexto internacional,
que são incontornáveis. É, por isso, essencial o esclarecimento destas matérias e das questões levantadas.
Há perguntas que se colocam: porque há de o Governo promover agora uma lei da cópia privada? Porque
há de o Governo promover um plano de combate à pirataria que pode criar restrições na utilização da
tecnologia, bem como no acesso e na circulação? Porque há de o Governo promover uma lei de gestão
coletiva de direitos de autor?
Tem também sido colocada uma outra questão, associada às anteriores: é oportuno, nesta fase da
Legislatura, promover este tipo de legislação?
Procurarei clarificar estas matérias e desmistificar as perguntas. Muitas vezes, esquecemo-nos de que o
problema, nos debates mais importantes e que interessam a um número mais alargado de pessoas ou à
comunidade no seu todo, não está na impossibilidade de responder a certas questões, mas, sim, no modo
errado de fazer as perguntas. Creio que nenhum de nós terá dúvidas de que a forma como fazemos as
perguntas condiciona a forma como lhes respondemos.
Hoje, estamos a falar do mercado de dispositivos tecnológicos digitais e dos respetivos consumidores, mas
estamos a falar também de criadores e de cidadãos, de economia e de sociedade, de tecnologia e de modelos
normativos.
Os dispositivos que hoje são parte central neste debate, por mais sofisticados ou apetecíveis que sejam,
por mais importantes ou habituais que sejam nas nossas vidas, só valem pela utilização que deles podemos
fazer. Atualmente, usamos estes dispositivos — computadores portáteis, tablets, smartphones, pens USB, etc.
— para a atividade profissional e para a vida pessoal, para a organização das nossas vidas e para a nossa
presença social.
Estes dispositivos têm, na sua essência, a capacidade de ampliar as nossas possibilidades de acesso à
informação e ao conhecimento, a nossa capacidade de criar informação e conhecimento, a nossa capacidade
de partilha de informação e conhecimento. Para o efeito, falo de informação e conhecimento englobando todas
as suas formas, nomeadamente a que decorre da criação de conteúdos artísticos, literários ou conexos, como
a criação de conteúdos editoriais, de som, de imagem, etc. Julgo que todos concordamos que este tipo de
produção humana é uma forma de conhecimento e informação, uma forma de abordarmos o mundo e de
sobre ele construirmos, no caso, obras criativas, novidade.
Os dispositivos de que falamos, ao permitirem a comunicação em rede e tendo nela um elemento decisivo
do modelo sobre o qual assenta a condição humana contemporânea, colocam precisamente no centro do
debate tanto a questão do acesso e propriedade de conteúdos como a questão da importância dos
dispositivos de comunicação.
Dominique Wolton, teórico francês na área da comunicação, diz que, ao conjugar as dimensões técnicas e
social, a ideologia da comunicação é o ponto de convergência de dois discursos dominantes. Ora, é aqui que
está o nosso debate de hoje, ou seja, na conjugação das dimensões técnica e social e no modo de operar em
termos normativos o conjunto de valores e o conjunto de interesses — que, como bem sabemos, não são
exatamente a mesma coisa — relativos à proteção dos direitos sobre conteúdos e a articulação com as suas
formas de acesso.