10 DE OUTUBRO DE 2014
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austeridade que o Governo tem vindo a impor ao País, sobretudo aos reformados e pensionistas, aos mais
desfavorecidos e desprotegidos da nossa sociedade.
Protestos do PSD e do CDS-PP.
Quanto ao primeiro defeito capital desta proposta de lei — a proteção devida, e garantida pelo PSD, às
pessoas com mais de 65 anos —, a Comissão de Monotorização, pelos vistos, não entendeu ser necessário
dar-lhes essa garantia.
O que acontece presentemente — e acreditem em mim, que falo com conhecimento de causa —, é que,
após a manobra invasora que foi o facto de centenas, senão milhares, destas pessoas terem, logo no início da
vigência da lei, recebido «inocentes» cartas dos seus senhorios, comunicando-lhes um aumento, na maior
parte das vezes obsceno, das suas rendas, muitas destas pessoas, também por iliteracia e por não terem
capacidade de pronta resposta, não responderam no prazo «mortal» que a lei determinava, de um mês, pelo
que se viram confrontadas com esses aumentos.
É certo que tanto as associações de inquilinos como as juntas de freguesia se mobilizaram, nalguns casos
com sucesso, para juridicamente contestarem essas cartas, mas, infelizmente, em muitos casos, foi tarde
demais.
A realidade nua e crua é que, se não for alterada a norma que define o prazo de cinco anos, estas pessoas
têm uma espécie de «pena suspensa», pois findo esse prazo serão despejadas se não puderem pagar a nova
renda. É lícito fazer-se isso a pessoas com mais de 65 anos — com 70, 75, 80 ou 83 anos… —, pessoas em
fim de ciclo de vida e que vivem nessas casas há décadas? Não! Não é, certamente, no Portugal de Abril.
Igualmente não é feita nenhuma proposta de alteração para o limite anterior de aumento até 4% sobre o
valor do património, em vez dos cerca de 7% que esta nova lei permite. Quando tudo aumenta — o gás, a
água, a eletricidade, os transportes, os bens de primeira necessidade, as despesas com a saúde e a
alimentação —, estes aumentos têm provocado o caos em muitas famílias, pondo em causa a sua própria
sobrevivência em termos de dignidade humana.
Aqui, em Lisboa, são inúmeras as famílias desesperadas com a austeridade e são muitas as que estão a
ser empurradas para a rua. Está a surgir, como o demonstrou, aliás, recentemente, um estudo feito pela Santa
Casa da Misericórdia de Lisboa, uma nova geração de sem-abrigo, em parte potenciada por estas políticas de
ataque às economias das famílias.
O Sr. António Prôa (PSD): — Ó Sr. Deputado!… Essa não…
O Sr. Miguel Coelho (PS): — E, Sr.as
e Srs. Deputados, também sei do que falo, uma vez que na junta de
freguesia a que presido sou, diariamente, confrontado com estas situações e o problema da casa é uma
constante.
Por último, também o terceiro defeito capital da atual lei, a avaliação do estado de conservação do fogo a
alugar com o envolvimento das autarquias nesse processo, não foi agora considerado nestas propostas de
alteração. Ora, não só isto é muito injusto, porque permite a alguns proprietários sem escrúpulos aumentarem
rendas em fogos que são inabitáveis — e, Sr.as
e Srs. Deputados, também sei do que estou a falar, mais uma
vez —, como igualmente estamos confrontados com um claro incentivo ao desinvestimento na reabilitação
urbana.
É por estas razões que não podemos aceitar como válidas as propostas agora aqui apresentadas, porque,
para além do seu potencial em concreto, passam ao lado daquilo que verdadeiramente interessa na lei do
arrendamento urbano: uma lei equilibrada, que proteja o investimento mas que salvaguarde a dignidade das
pessoas que vivem nas suas habitações há já muitos anos.
Esta lei, tal como está, não serve. Precisa de ser revogada.
Aplausos do PS.
O Sr. António Prôa (PSD): — Ah, bom!… Afinal era só isso!…