I SÉRIE — NÚMERO 13
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O Portugal de Abril, o Portugal do consenso constitucional de 1976, reiterado na salvaguarda de princípios
que tem enformado quatro décadas de democracia, assenta na defesa de direitos políticos, económicos,
sociais e culturais e na construção de uma sociedade desenvolvida e solidária, integrada no projeto europeu.
O alargamento da escolaridade obrigatória, a democratização do acesso ao ensino superior, a criação do
Serviço Nacional de Saúde, a dotação do País com infraestruturas modernas que promovem a qualidade de
vida das pessoas e a competitividade das empresas são o resultado de quatro décadas de democracia que
reforçam a capacidade de afirmação de Portugal no quadro europeu e numa economia crescentemente
globalizada.
Os últimos três anos têm sido marcados por uma governação de um extremismo fundamentalista que abriu
uma guerra com o Estado de direito.
Aplausos do PS.
O arco constitucional, que abomina as políticas públicas, nega os fatores de sucesso da sociedade
portuguesa, como a qualidade das infraestruturas, recentemente reconhecida no Relatório da Competitividade,
os progressos na educação, atestados pela OCDE nos relatórios PISA, e a redução da mortalidade infantil,
que coloca o nosso Serviço Nacional de Saúde entre os melhores, segundo a OMS (Organização Mundial de
Saúde). Mas a proposta de resolução em debate, apresentada pelo PCP, é uma ofensa ao Portugal
democrático e às conquistas sociais de 38 anos de democracia constitucional.
Falar em 38 anos de continuada política de direita é negar os notáveis progressos registados nos índices
de desenvolvimento humano e é estar objetivamente de braço dado com os que pretendem ignorar, anestesiar
e destruir o Estado social.
O PS tem consciência do momento particularmente difícil que vivemos após três anos de rutura deliberada
com o consenso social em que se baseia a democracia portuguesa, da crise profunda do projeto europeu e de
destruição, pelo ódio do Governo, do papel que caberia ao Estado desempenhar de salvaguarda da coesão
social e territorial e da competitividade da economia portuguesa, dos importantes instrumentos de regulação
económica e da salvaguarda dos interesses estratégicos nacionais em domínios como o sistema financeiro, a
energia e as telecomunicações.
O PS orgulha-se de associar a consolidação da democracia e da justiça social à participação de Portugal
no projeto europeu. Foi assim com a decisão de adesão à então CEE, que só foi possível por sermos uma
democracia. Foi assim com a participação de Portugal no espaço fundador da zona euro, apesar das dúvidas
generalizadas sobre a capacidade para tal, após 10 anos de governação de direita. Foi assim que
contribuímos para a Estratégia de Lisboa, definida em 2000, e que promovia uma Europa inovadora,
competitiva e solidária. Foi assim com a nossa contribuição para o Tratado de Lisboa, por uma renovação
institucional e pelo alargamento dos poderes do Parlamento Europeu como voz democrática dos povos
europeus.
A crise global do sistema financeiro internacional teve consequências gravosas para a economia europeia e
demonstrou as fragilidades e imperfeições do modelo de construção do euro.
Uma moeda única, coartando aos estados o exercício da política orçamental, é incompatível com a falta de
coordenação de políticas económicas ou com a falta de harmonização da política fiscal.
A Europa reagiu de forma errática à crise. Primeiro, adiou uma resposta coordenada ao colapso das
instituições financeiras decorrentes da crise do Lehman Brothers; adotou, em 2009, uma via de intervenção do
Estado nas economias e inverteu subitamente essa orientação para uma visão marcadamente ideológica e
fundamentalista baseada na culpabilização das economias periféricas pela crise europeia.
Estamos nos últimos meses de um ciclo político desastroso, iniciado com a abertura de uma crise política
que empurrou Portugal para um penoso programa de ajustamento, negociado em condições de manifesta
fragilidade política.
Ao fim de longos anos de crise, o projeto europeu esteve no limiar da desintegração, os extremismos
ganharam espaço nas eleições europeias e a economia europeia mantém-se à beira da estagnação.
A nacionalização de grande parte do sistema financeiro britânico ou a situação de recessão em que se
encontram países que lideraram a linha de extremismo financeiro, como a Holanda ou a Finlândia, provam que