I SÉRIE — NÚMERO 16
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Se o Sr. Deputado dispõe desse documento da Câmara de Lisboa que quer fornecer à Câmara, teremos
todo o gosto em distribui-lo.
Srs. Deputados, vamos agora entrar no último ponto da nossa ordem do dia de hoje que consta da
apreciação conjunta da petição n.º 377/XII (3.ª) — Apresentada por Alfredo José de Sousa e outros,
solicitando à Assembleia da República que recomende ao Governo o desenvolvimento de um processo
preparatório de «reestruturação da dívida para crescer sustentadamente» e dos projetos de resolução n.os
1003/XII (3.ª) — Pela reestruturação da dívida para crescer sustentadamente (BE), 1142/XII (4.ª) — Propõe a
renegociação da dívida pública e políticas de defesa e reforço da produção e do investimento que assegurem
o crescimento da economia e combatam o desemprego (PCP) e 1143/XII (4.ª) — Desencadear um processo
parlamentar de audição pública para avaliação do impacto da dívida pública e das soluções para o problema
do endividamento (PS).
Para apresentar o projeto de resolução do Bloco de Esquerda, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Filipe
Soares.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: No retomar do debate sobre a
dívida pública, a sua sustentabilidade ou insustentabilidade e a imperiosa necessidade de reestruturação,
queria, em primeiro lugar, saudar todas e todos aqueles que, de uma forma cidadã, se envolveram nas
diversas petições pela reestruturação da dívida pública e, particularmente, as várias dezenas de milhares de
peticionários que, nesta petição em concreto, se levantaram na sociedade com vários objetivos, que, creio,
alcançaram.
Um primeiro objetivo foi o de exigir um debate informado sobre a dívida pública, e esse objetivo foi
alcançado; um segundo objetivo foi o de chamar a atenção para o problema, para uma dívida pública que não
parou de aumentar com este Governo, que é uma arma de chantagem do Governo para atirar contra direitos,
contra salários, contra pensões e, mesmo com toda a austeridade, o Governo não lhe conseguiu ter mão,
porque quando o Governo tomou posse a dívida pública era de 94% e, agora, é de 134% do PIB, ficando a
demonstração inequívoca de que um País que empobrece é um País que não paga a sua dívida, antes
sacrifica as suas pessoas.
Ora, os peticionários conseguiram o objetivo de criar um debate e está agora na mão de todas as
Deputadas e de todos os Deputados que o segundo objetivo que estes peticionários tinham para alcançar
possa ser, de facto, alcançado.
Eles propuseram-se trazer a esta Assembleia um debate informado e uma ação concreta: exigir uma
reestruturação da dívida pública com medidas concretas, com ações rápidas, porque chegaram à conclusão
que cada dia de espera é um dia de mais sacrifícios na vida das pessoas; é um dia de mais sacrifícios e de
mais cortes salariais na vida dos trabalhadores; é um dia de mais sacrifícios e mais cortes nas pensões de
quem trabalhou uma vida inteira; é um dia de mais sacrifícios para as legítimas expetativas de vida dos jovens,
que são obrigados a emigrar, e é mais um dia de sacrifícios e de ataque aos serviços públicos,
constitucionalmente previstos, e que estão, de facto, a ser atacados a cada dia que passa por este Governo.
Sobre esta matéria, há duas escolhas: ou deixarmo-nos de dogmas, vermos o problema e darmos passos
para a sua solução — e esse foi o caminho que o Bloco de Esquerda levou por diante ao apresentar um
projeto de resolução que coloca em texto todas as propostas do chamado Manifesto dos 74 (e com isto não se
esgota a posição do Bloco de Esquerda, dizemo-lo claramente, trazendo aqui a debate e a votação aquilo que
os subscritores do Manifesto e tantas dezenas de milhares de peticionários trouxeram a esta Assembleia da
República) — ou escolhermos nada fazer.
E há duas vertentes nesta segunda escolha: a vertente da maioria parlamentar, escudada no Governo, que
diz que até aceita debater, desde que o debate seja manietado, para não ter nenhuma conclusão que ataque o
essencial — e atacar o essencial é atacar a especulação e o peso de uma dívida pública que, por ano, leva
mais do que o Serviço Nacional de Saúde — ou, então, a escolha do Partido Socialista, que hoje tem até na
primeira fila da sua bancada dois Deputados que assinaram este Manifesto, os Deputados Ferro Rodrigues e
João Galamba, e que não se pode escudar agora numa ideia de que não há um debate feito, porque desde
março, desde o momento em que foi publicado este Manifesto,…
O Sr. Presidente (António Filipe): — Queira concluir, Sr. Deputado.