I SÉRIE — NÚMERO 28
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Esta política, Sr.ª Presidente, tem posto em causa os avanços registados nos últimos anos em vários
domínios, desde logo o número de investigadores por mil habitantes, o número de publicações, a evolução ao
nível da colaboração entre as universidades e as empresas, que vinha registando ganhos significativos.
Portanto, o que tem acontecido é que este Governo tem desinvestido na ciência e tem, por isso mesmo,
desinvestido também no desenvolvimento do País.
Por isso, propomos patamares mínimos para travar o desmantelamento do Sistema Científico e
Tecnológico Nacional; que se reponha o número de bolseiros, na linha do que vinha sendo feito até 2013; que
se inverta o processo de envelhecimento através de dotações anuais para procedimentos concursais
internacionais; que se garanta a estabilidade e o diálogo, que não tem existido, com a comunidade científica;
que se desburocratize e flexibilize a gestão, adotando orçamentos plurianuais compatíveis com a
especificidade da área; que mais uma vez — temo-lo pedido várias vezes — se cumpra a promessa da Sr.ª
Secretária de Estado e que excecione a Lei dos Compromissos para a ciência porque é um absurdo e é uma
bloqueadora dos investimentos que é necessário fazer nesta área do conhecimento; e também que os
processos de avaliação passem a ser rigorosos, transparentes, com qualidade e com envolvimento da
comunidade científica.
Aplausos do PS.
Entretanto, assumiu a presidência a Vice-Presidente Teresa Caeiro.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Rita Rato.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Da parte do Partido Comunista Português,
jamais aceitaremos a destruição do Sistema Científico e Tecnológico Nacional e a emigração forçada de
centenas de trabalhadores científicos.
Na realidade, nenhum sistema científico e tecnológico que responda às necessidades do País pode
assentar em bolsas e projetos. Aliás, a desvalorização e a precariedade do trabalho científico e a exiguidade
do financiamento público são obstáculos efetivos à valorização do sistema científico e tecnológico nacional e
ao próprio desenvolvimento do País.
Em Portugal, cerca de metade dos trabalhadores científicos, 25 000 investigadores a tempo integral, têm
um vínculo precário. A despesa nacional em I&D (Investigação e Desenvolvimento) dividida pelo número de
investigadores ativos é inferior a um terço da média da União Europeia a 28 e tem regredido nos últimos anos.
Na verdade, em Portugal, os avanços registados no plano da investigação devem-se ao empenho, ao
trabalho e ao esforço público que alimenta o sistema científico e tecnológico porque o esforço privado foi
sempre residual.
Na verdade, não é o sistema público que tem investigadores a mais, o setor privado é que tem investigação
a menos! E a política cientifica deste Governo PSD/CDS visa subordinar a produção científica e tecnológica ao
mercado privado, disponibilizando a I&D nacional aos grupos económicos para que potenciem os seus lucros
à custa do Sistema Científico e Tecnológico Nacional.
Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: O potencial científico e tecnológico do País constitui pilares essenciais da
soberania nacional. Só uma política que promova o potencial da investigação, desenvolvimento e inovação
pode contribuir para o progresso do País.
Por isso mesmo, a existência de um sistema científico e tecnológico coeso e pujante é fulcral para a
articulação entre o setor produtivo e o desenvolvimento social, humano e territorial.
Aliás, a promoção exclusiva de nichos ou de pequenos grupos de investigação em áreas circunscritas do
conhecimento não representa, de forma alguma, o necessário aumento do potencial científico e pode até
mesmo correr-se o risco de afirmar apenas núcleos de I&D, funcionando de forma descoordenada e sem uma
orientação estratégica nacional.
O Sistema Científico e Tecnológico Nacional tem sido, ao longo dos anos, alvo de um processo de
desinvestimento em meios humanos e materiais, acompanhado por um ataque aos direitos dos trabalhadores
e por uma crescente precarização das relações laborais.