12 DE DEZEMBRO DE 2014
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A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Os problemas da juventude são os
problemas do País e os problemas do País são os problemas da juventude.
Analisar a realidade com que hoje os jovens portugueses estão confrontados obriga-nos a identificar os
problemas, as causas, os responsáveis e as respostas alternativas a este caminho de retrocesso.
O que o PSD vem aqui hoje fazer é afirmar falsas preocupações com a juventude, utilizando a política de
juventude para apagar a sua responsabilidade direta no agravamento das condições de vida dos jovens
portugueses, na negação do direito à educação, à emancipação e à autonomia.
Afirmam falsas preocupações com a juventude para esconder o ataque que têm desenvolvido contra os
jovens com a política de direita, a política da precariedade, da emigração forçada, do desemprego, do
desmantelamento das funções do Estado e de violação da Constituição.
Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, passados mais de três anos de imposição do pacto da troica, subscrito por
PS, PSD e CDS e aplicado pelo atual Governo, a situação do País é de retrocesso civilizacional.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Os tempos que vivemos são marcados pelo empobrecimento, pela agudização
da pobreza e da exclusão social, do desemprego, da precariedade, do trabalho gratuito e não remunerado, da
emigração forçada de mais de 50 000 jovens. O desemprego e o desemprego jovem é, pelas piores razões, o
resultado mais expressivo do projeto político deste Governo — o empobrecimento, o agravamento da
exploração, a tentativa de aniquilar direitos laborais e sociais. É que, de facto, o desemprego não é um acaso
do destino que por azar havia de calhar ao País. O desemprego é, de facto, um dano que não é colateral e
que resulta de um projeto político de concentração da riqueza e de benefício do poder económico e financeiro.
O desemprego é um fator de pressão sobre os salários, é um instrumento para reduzir os custos de trabalho,
uma chantagem para aqueles que ainda têm emprego e um desespero para aqueles que todos os dias
sobrevivem sem emprego.
Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, hoje, no nosso País, mais de 300 000 jovens não trabalham nem estudam.
O desemprego real dos jovens ultrapassa os 50%, e isto é um flagelo individual de cada um dos que se
encontram nesta situação, mas é também um problema do País, que vê desperdiçada a geração mais
qualificada de sempre. E é exatamente pelas necessidades reais do País que estes jovens deveriam estar ao
serviço do progresso e do desenvolvimento nacional e não a ser forçados a emigrar para fugir ao desemprego
e à miséria.
Hoje, cerca de 1 milhão e 500 000 trabalhadores, sobretudo jovens, vivem na intermitência dos estágios
não remunerados, dos estágios profissionais, do emprego sem direitos e do desemprego. Hoje, milhares de
jovens saltam de estágio em estágio, de empresa em empresa, suprindo necessidades permanentes desses
serviços. E importa aqui dizer que o programa Garantia Jovem não visa criar emprego, visa criar uma
ocupação, ocupação que não é emprego e que visa apenas mascarar as estatísticas do desemprego. Na
verdade, o programa Garantia Jovem é um passaporte para o desemprego porque apenas gera emprego
precário e mal pago. O programa Garantia Jovem não visa resolver o problema do desemprego jovem nem tão
pouco garantir condições de autonomia e emancipação.
Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, hoje, muitos jovens casais adiam a decisão de ter filhos porque amanhã
não sabem se vão ter emprego; porque sabem que amanhã não terão direito ao subsídio de desemprego; não
sabem qual será o seu horário de trabalho; não sabem se o seu salário, que mal dá para dois, irá dar para
três; sabem que a seguir aos contratos a prazo, aos recibos verdes, aos estágios e ao trabalho temporário vão
novamente apresentar-se de 15 em 15 dias no centro de emprego.
A precariedade do emprego é a precariedade da família, é a precariedade da vida, mas é, igualmente, a
precariedade da formação, das qualificações e da experiência profissional, é a precariedade do perfil produtivo
e da produtividade do trabalho.
Por isso mesmo, o PCP defende que o combate ao desemprego é inseparável do combate à precariedade.
Desemprego e precariedade são as duas faces da mesma moeda e a alternativa ao desemprego, Sr.ª
Deputada do CDS, não é a precariedade; a alternativa ao desemprego é o emprego com direitos.