I SÉRIE — NÚMERO 34
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O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Teresa
Anjinho.
A Sr.ª Teresa Anjinho (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Reconhecendo a importância
inequívoca do tema e não querendo desviar a discussão da substância para a forma, a primeira de natureza
essencialmente técnica e a segunda de natureza essencialmente política, a verdade é que, quando somos
confrontados com o empolamento que o Partido Socialista tem feito nos últimos tempos da realidade da
violência doméstica, em nome do esforço, do compromisso e do trabalho com resultados assumidos pelos
mais diversos atores da esfera política, judiciária e cívica, mais em nome das próprias vítimas, não posso, nem
devo começar esta discussão sem deixar bem clara a minha opinião crítica quanto ao caminho que o Partido
Socialista, recentemente, tem adotado.
A Sr.ª Carla Rodrigues (PSD): — Muito bem!
A Sr.ª Teresa Anjinho (CDS-PP): — É um caminho que, no nosso entender, se limita a pegar numa
realidade difícil, a denunciar a dificuldade e a esperar, sem ter a preocupação de apresentar soluções viáveis e
novas, como aqui foi dito, iludindo a opinião pública e, com isso, esperando cativar para si os sentimentos
naturais, legítimos e, obviamente, comuns a todos os portugueses e que nós, como é evidente, também
acompanhamos.
A Sr.ª Carla Rodrigues (PSD): — Chama-se a isso «aproveitamento»!
A Sr.ª Teresa Anjinho (CDS-PP): — É um caminho fácil. Difícil, Sr.as
e Srs. Deputados, é, claramente,
resolver. E, convenhamos, esperar-se-ia, particularmente nesta nova fase do Partido Socialista, um pouco
mais de substância e de cuidado e que fosse capaz de acompanhar, aliás, todo o destaque emocional do
último congresso ou da preocupação presente na mensagem de Natal de António Costa. Enfim, não é um bom
prenúncio. Como diz o ditado, parece-nos «muita parra e pouca uva».
Dito isto, é verdade que, não obstante a maior atenção do legislador ou do executor, o fenómeno da
violência doméstica continua a registar números preocupantes.
Também é verdade, e julgo que todos reconhecemos, que parte da expressão da realidade dos números
reconduz-se a uma maior exposição pública do problema, a uma atenção coletiva mais vigilante e a um
sistema, nas diversas dimensões, mais eficaz. Este é um reconhecimento que, naturalmente, não pode, nem
deve, afastar a preocupação. É um fenómeno complexo, com uma resposta complexa, que exige uma atenção
permanente, nomeadamente por parte do legislador.
Por isso, olhemos o projeto de lei em discussão. Se a intenção subjacente ao projeto é compreensível, a
solução, conforme apontam a maioria dos pareceres, na tentativa de simplificação da resposta, poderá ter um
resultado que será, provavelmente, o oposto do pretendido.
Deixo duas notas breves, mas que considero importantes.
Considero este projeto de lei redundante e para pior no caso da medida de coação de afastamento do
agressor, que, como já foi referido, já está prevista.
Já em matéria de regulação provisória das responsabilidades parentais, não se vislumbram, e quanto a isto
também acompanhamos os pareceres, vantagens, principalmente quando se procede a uma ponderação
consciente e informada dos valores e dos interesses em causa, considerando, por um lado, a natureza
diferente e especializada das questões distintas que se levantam e, por outro, a própria fase em que nos
encontramos no processo.
Em suma, é redundante, desajustado e tecnicamente muito imperfeito.
Sr.as
e Srs. Deputados, ponto da situação: nunca se fez tanto ou se falou tanto da violência doméstica
como hoje e quanto aos números, apesar de preocupantes e frustrantes, a verdade é que não denunciam uma
realidade pior. Naturalmente que pode haver uma evolução do quadro legislativo, mas não será, certamente,
com um projeto como este que estamos a debater, que, como já foi dito, não passou no crivo de nenhuma das
entidades ouvidas, nem mesmo no da Procuradoria Geral da República.