I SÉRIE — NÚMERO 53
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apesar de reconhecido, nacional e internacionalmente, sempre recusou a autoglorificação que, certamente,
teria sido para outros uma tentação fácil.
Aquando do debate sobre o voto de pesar que aqui foi aprovado e que, de resto, consta do texto da própria
Resolução, dissemos que Eusébio é, de facto, um símbolo maior do desporto nacional e que por esse facto
granjeou reconhecimento não só nacional como internacionalmente e que teve, de resto, tradução nas
homenagens que lhe foram prestadas quer dentro quer fora do País.
Mas Eusébio é também uma figura que fica na memória coletiva dos portugueses pela generosidade — e
estes são aspetos marcantes do seu perfil humano —, pela solidariedade com que, ao longo da sua vida, se
relacionou com quem à sua volta se encontrava e até dando mostras de afastamento de polémicas e querelas
que não só no mundo do futebol, mas também para lá disso, se foram desenvolvendo e das quais manteve um
distanciamento, que é singular e marcante da sua personalidade.
Assim, com esta decisão que a Assembleia da República agora assume, julgamos que se dá
reconhecimento, se dá tradução a esse sentimento popular de identificação com a figura de Eusébio nas suas
múltiplas dimensões, mas também se faz justiça a esse sentimento popular.
Aplausos do PCP e de Deputados do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — A próxima intervenção é do Bloco de Esquerda.
Tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Falar de Eusébio é falar do
homem, é falar do jogador, mas é também falar do símbolo e, principalmente, de emoções.
Por isso, desde já, aqui me confesso incapaz de atingir essas emoções que ele conseguiu transmitir a
tantas e a tantos e a tantas e tantas gerações.
Mas falar de Eusébio é também discutirmos aqui o momento em que a Assembleia dá eco ao sentimento
nacional. Transformar o Eusébio no herói nacional não é uma decisão que aqui possamos tomar, já está
tomada; o povo assim o quis, as pessoas assim o sentem!
Sentiram-no em momentos onde muitas das esperanças que havia no País eram materializadas no
Eusébio, no exemplo do homem que conseguiu fintar o seu destino, um destino que se tingia de pobreza e de
dificuldades, mas que ele mostrou que era possível pontapear e fintar, e, com isso, mostrar que sabia fazer
muito mais do que apenas ser condenado pelos grilhões de uma ditadura que não tinha muito a apresentar.
Mas é falar também do jogador que era temido pelos adversários, mas respeitado dentro e fora das quatro
linhas.
Dizia o Poeta que ele era «humildade» e «explosão». Era exatamente isso, mas era, acima de tudo, a
perceção de que víamos no homem muito mais do que ele próprio e a capacidade de fazer, com os seus pés,
a criação de sentimentos em todas e em todos nós.
Por isso, se o Poeta já reconheceu que os seus golos não eram remates mas, sim, poemas, quem somos
nós para dizer que ele não deve estar senão no mais alto patamar de Portugal, o Panteão, e, com esse
reconhecimento, materializar o sentimento de que ele foi importante no passado, mas, acima de tudo, é, e
continuará a ser, importante no futuro?!
Por isso, associamo-nos a este projeto de resolução e achamos que, hoje, a Assembleia da República dá
um bom passo no reconhecimento que o País já fez também a Eusébio.
Aplausos do BE e de Deputados do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — A próxima intervenção é de Os Verdes.
Tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Eusébio da Silva Ferreira
foi uma figura marcante do século XX, um futebolista de dimensão universal que levou o nome do Benfica e,
sobretudo, o nome de Portugal a todos os cantos do mundo. Um futebolista absolutamente excecional, mas