I SÉRIE — NÚMERO 58
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Vou dar a palavra, pelo PS, para uma declaração política, ao Sr. Deputado Pedro Delgado Alves.
Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Ao aproximarmo-nos da reta
final da Legislatura torna-se cada vez mais óbvio e menos fácil de mascarar com retórica e com fantasia as
consequências devastadoras de quatro anos de governação, assentes numa combinação também ela
devastadora, de fatores desastrosos.
Ouvimos, ainda há pouco, o Sr. Deputado Luís Montenegro falar de «viver em fantasia». E falou também,
com analogias futebolísticas, quanto aos resultados dos jogos. Mas parece-nos que o PSD e o CDS estão a
desenvolver um jogo na PlayStation, em que escolheram o seu clube favorito, eventualmente o Sporting de
Espinho, e deparam-se com o Sporting de Espinho campeão europeu! Mas não é extrapolável para a
realidade de sofrimento dos portugueses o que se passa na PlayStation que os senhores estão a jogar e, com
todo o respeito pelo Sporting de Espinho — o meu tio foi guarda-redes do Sporting de Espinho, portanto, tenho
bastante respeito pela coletividade —, essa realidade não se traduz no que é o sofrimento dos portugueses.
Aplausos do PS.
Como dizia, há três fatores que são absolutamente devastadores nas opções políticas do Governo.
Em primeiro lugar, uma devoção crítica e contraproducente a um modelo de austeridade, supostamente
redentora, que apenas o Tribunal Constitucional impediu a maioria de levar até ao fim. Portanto, se espiral
recessiva não tivemos devemo-lo, de facto, ao respeito pelo princípio da igualdade, pelo princípio da
proporcionalidade e as malfeitorias que estavam previstas e que devastariam a economia portuguesa foram
travadas em boa hora.
Aplausos do PS.
E tanto mais radical, insensível ao impacto social e irracional destas propostas, que a maioria nem sequer
ouve as vozes avisadas que da Comissão Europeia começam a dizer, até de forma bastante assertiva, pela
voz do seu Presidente, que estas instituições pecaram contra os Estados sujeitos à autoridade excessiva e
contraproducente.
Em segundo lugar, vinga, na maioria, uma leitura ideológica e revanchista quanto ao papel do Estado e
quanto ao papel que pode ser desempenhado pelos serviços públicos na construção de crescimento e na
capacidade de valorizar e qualificar as populações e que, consequentemente, produzirá, necessariamente,
resultados negativos.
Mas há um terceiro fator que, juntando-se a estes, é igualmente devastador. É a incapacidade recorrente
de assegurar os mínimos de gestão competente e eficiente dos serviços públicos. E não se trata de uma
realidade que passe despercebida, porque os alertas sobre este caminho perigoso têm sido colocados em
cima da mesa e em boa hora têm sido feitos os avisos quanto ao aumento da pobreza, em boa hora têm sido
feitos os avisos quanto à insustentabilidade do desemprego que temos, mas, malogradamente, o Governo
continua a insistir em não ouvir. E não ouvir fingindo até que o seu plano está a funcionar, mesmo quando a
Comissão Europeia sublinha que continuamos a ter desequilíbrios macroeconómicos excessivos, mesmo
quando a Comissão Europeia sublinha que, apesar de todos os sacrifícios, apesar de toda esta racionalidade,
o modelo não está a funcionar, continuamos a refugiar-nos na mesma retórica, nas mesmas opções falhadas e
no mesmo rumo que nos está a empurrar para um caminho sem destino.
Aplausos do PS.
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, basta olhar de relance para alguns destes setores com mais
impacto na vida das pessoas para constatar que esta combinação, nada virtuosa de métodos e prioridades, só
pode falhar.
Olhamos para o setor da educação, em que uma redução de quase 1300 milhões de euros no período da
governação outra coisa não produziu senão uma desqualificação da educação pública:…