I SÉRIE — NÚMERO 61
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Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Miranda Calha): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís
Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Estamos diante de um
conjunto de iniciativas legislativas que pretendem introduzir novas regras no funcionamento do sistema
político.
Em jeito de conclusão, poderia dizer-se que se pretende credibilizar a vida democrática, que se pretende
torná-la mais transparente, atribuir-lhe mais rigor, mas também se procura garantir uma real e efetiva
separação entre o poder político e o poder económico, indo, aliás, ao encontro da nossa Constituição, que
elege a subordinação do poder económico ao poder político, como um princípio fundamental da organização
económica.
São, portanto, medidas necessárias, sobretudo numa altura em que se torna cada vez mais percetível um
sentimento generalizado entre os portugueses de uma certa subordinação do poder político ao poder
económico, e onde as decisões políticas são, tantas vezes, nubelosas, porque pouco transparentes e porque,
pura e simplesmente, o interesse público não foi considerado.
Ora, o interesse público tem de ser o fator determinante, tem de ser o fundamento exclusivo de qualquer
decisão política. E se queremos, na verdade, garantir a presença do interesse público nas decisões políticas,
não pode haver titulares de cargos políticos, que, ao mesmo tempo que exercem o seu mandato, ocupam uma
parte do seu tempo a trabalhar para grupos económicos e financeiros, que, muitas vezes são também
destinatários dessas decisões.
Os eleitores votam para que os eleitos se dediquem a tratar de assuntos públicos — que tratem, que
cuidem do interesse público! —, não votam para que os eleitos, no exercício do seu mandato, estejam a cuidar
de interesses privados.
É por isso que, neste esforço de credibilizar a democracia e de garantir a subordinação do poder
económico ao poder político — um esforço que, de resto, nos deve convocar a todos —, ganha uma
importância decisiva, não só o reforço e o alargamento das incompatibilidades dos titulares de cargos políticos
e de altos cargos públicos, mas também a clarificação das regras atuais do Estatuto dos Deputados, que têm
vindo a permitir situações verdadeiramente estranhas à nossa democracia, que se pretende absolutamente
transparente.
É recorrente, por exemplo, assistir à nomeação de gestores públicos que, depois, vão de armas e
bagagens para empresas privadas, tantas vezes concorrentes das empresas com capitais públicos, para as
quais foram, inicialmente, nomeados pelo Governo.
São situações destas que comprometem a defesa do interesse público e que hipotecam, até, a nossa
democracia. E é isto que é necessário contrariar e acautelar no plano legislativo.
É por isso que Os Verdes entendem que esta Assembleia da República não pode ficar indiferente, fingindo
como se não se estivesse a passar nada. Esta Assembleia tem a obrigação de agir no sentido e aperfeiçoar as
regras atualmente em vigor para credibilizar a nossa democracia, para garantir a defesa do interesse público e
para evitar que o poder político se confunda com o interesse e com o poder económico.
Os Verdes farão a sua parte neste combate, viabilizando as propostas em discussao. Vamos espeerar que
os restantes grupos parlamentares, nomeadamente as bancadas da maioria, também se associem a este
combate que a todos deve mobilizar.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Muito bem!
O Sr. Presidente (Miranda Calha): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Lobo.
O Sr. João Lobo (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Vou referir-me apenas, brevemente, a
intervenções que aqui foram produzidas pondo em causa a dignidade de profissionais dignos, honrados,
sérios.