13 DE MARÇO DE 2015
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As micro e pequenas empresas, muitas pequenas explorações agrícolas de carácter familiar, muitas
atividades associadas à ruralidade e que, pela sua qualidade e importância social e económica nas regiões em
que se inserem, merecem um tratamento diferenciado porque são diferentes, foram afetadas negativamente
pelas alterações impostas pelo atual Governo ao regime de bens em circulação.
Na altura, o PCP alertou e denunciou os efeitos perversos das opções políticas da atual maioria, que
assentam na desconfiança em relação aos micro e pequenos empresários, numa estratégia de os
responsabilizar pela fuga e evasão fiscais, tratando-os a todos como potenciais prevaricadores. Esta postura
do Governo tem como objetivo esconder a opção ideológica de privilegiar os interesses das grandes empresas
e dos grupos económicos e financeiros, permitindo-lhes e facilitando-lhes práticas abusivas de planeamento
fiscal agressivo, profundamente lesivas do interesse público e que conduzem à sobrecarga tributária que recai
sobre os trabalhadores e as micro, pequenas e médias empresas.
O Governo insiste em não distinguir níveis de informalidade e de subsistência com criminalidade financeira,
com branqueamento de capitais, com esquemas de planeamento fiscal agressivo, apenas acessíveis aos
grandes grupos económicos e financeiros e às grandes fortunas.
A sanha persecutória contra os trabalhadores e os micro e pequenos empresários em sede fiscal contrasta
com a política de favorecimento fiscal ao grande capital, com os inúmeros e generosos benefícios fiscais, com
os perdões fiscais, com os instrumentos de planeamento fiscal, colocados à disposição das grandes empresas
e grupos económicos.
Reafirmamos aqui a necessidade de uma política fiscal alternativa que, articulada com a dimensão
orçamental, assegure o financiamento das funções sociais do Estado, rompa com o favorecimento dos
grandes grupos económicos e financeiros e alivie fiscalmente os trabalhadores e as famílias, assim como as
micro e pequenas empresas.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Miranda Calha): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge
Rodrigues Pereira.
O Sr. Jorge Rodrigues Pereira (PS): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O ditado popular
«depressa e bem não há quem» aplica-se muito bem a todo este processo legislativo relacionado com o
regime de bens em circulação, objeto de transações entre sujeitos passivos de IVA.
Vejamos: o decreto-lei de 2012 deveria ter sido aplicado em janeiro de 2013, mas a sua execução foi
adiada para 1 de maio, a que se seguiu um novo adiamento para 1 de julho e uma nova portaria que anulava
quaisquer sanções até outubro de 2013, para que as empresas pudessem adaptar-se ao novo sistema.
A intenção de criar um novo regime para tornar mais simples e mais rápido o cumprimento da obrigação de
emissão de documentos de transporte pelas empresas revelou-se um estorvo à vida das mesmas: em vez da
eficiência pretendida e de lhes simplificar a vida, o que se introduziu foi uma complicada teia burocrática com
recurso a novas tecnologias e com procedimentos de utilidade duvidosa. Em vez de estarmos a trabalhar para
a simplificação, para a desburocratização, para medidas que facilitem o crescimento e o desenvolvimento das
pequenas e médias empresas, estamos no sentido inverso.
Se as empresas de maior dimensão podem ultrapassar mais facilmente o que se lhes exige, a grande
maioria não pode corresponder aos requisitos propostos.
Se esta é uma realidade que atinge uma parte significativa do continente português, ela torna-se mais
evidente nas regiões insulares, como os Açores.
A legislação em vigor traz enormes dificuldades e muita burocracia a diferentes setores, desde a agricultura
às pescas, à construção civil ou à pequena distribuição de produtos, e vai contra tudo o que é eficiência de
uma economia moderna e contra a vontade dos agentes económicos.
Sem dúvida alguma, devemos ser intransigentes no combate à economia paralela, aos imaginativos
esquemas de evasão fiscal, mas o que não podemos é implementar mecanismos desajustados da realidade.
O reforço da fiscalização torna-se, pois, uma necessidade.
Esta proposta da assembleia regional foi aprovada em julho de 2013, tendo, de seguida, dado entrada
neste Parlamento, mas só agora, em 2015, veio a Plenário. Entretanto, foi publicada legislação que responde