I SÉRIE — NÚMERO 63
40
É precisamente pelo facto de a água ser um bem escasso e fundamental à vida humana que o debate
político e partidário deve ser responsável e orientado por esta premissa, de modo a assegurar a
sustentabilidade intergeracional do setor, tal como entendemos que a reforma que se encontra em curso será
capaz de o fazer.
Termino, Srs. Deputados, dizendo o seguinte: os pilares para a reestruturação destes setores assentam,
precisamente, no aumento da eficiência dos sistemas e serviços de abastecimento de água, saneamento de
águas residuais e gestão de resíduos, com vista à redução dos custos associados,…
O Sr. Presidente (Miranda Calha): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Pedro Morais Soares (CDS-PP): — … como garantias da universalidade do seu acesso e melhoria
da qualidade dos serviços prestados à população, permitindo, ainda, corrigir as disparidades das tarifas que se
verifiquem entre sistemas e regiões do País, bem como atender a problemas sociais atuais e futuros de
acessibilidade aos serviços.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Miranda Calha): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro
Farmhouse.
O Sr. Pedro Farmhouse (PS): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Esta não é a primeira vez que a
Assembleia da República debate o acesso da iniciativa económica privada aos setores da água, do
saneamento e dos resíduos e não será, certamente, a última.
Não que me queira referir, neste momento, à notícia de que a Autoridade da Concorrência decidiu iniciar
uma investigação aprofundada à privatização da Empresa Geral de Fomento, por considerar que a operação
possa colocar entraves à concorrência nos serviços de gestão de resíduos urbanos, até porque a liquidação
desta empresa e as consequências que daí resultam para os municípios e para o País serão amplamente
debatidas amanhã de manhã aqui, no Parlamento.
Afirmo-o, porque o Parlamento não deixará de estar atento à ação destruidora do Governo e à sua febre de
privatizações contra tudo e contra todos, particularmente no que se refere ao processo em curso de
desmantelamento do Grupo Águas de Portugal. Porque esse processo tem um só objetivo: a privatização da
Águas de Portugal.
Saúdo os grupos parlamentares proponentes pela apresentação de iniciativas legislativas e por terem
suscitado o debate no dia de hoje.
Como tive oportunidade de referir no passado, quando abordámos iniciativas legislativas conexas, estes
projetos de lei têm o mérito de trazer para o debate parlamentar algo que diz respeito aos cidadãos e que
interfere com as suas vidas. A reestruturação dos setores das águas, do saneamento e dos resíduos é
caracterizada por uma total opacidade, por uma flagrante falta de transparência e pela surpreendente ausência
de estudos aprofundados que a justifiquem.
Recordo, por isso, o que afirmei nesta Casa no respeitante à alteração da Lei de Delimitação de Setores,
ou seja, que nos últimos 20 anos Portugal assistiu a uma reforma silenciosa que permitiu que uma larga
percentagem da população visse as suas condições de prestação de serviço profundamente melhoradas; que
o «milagre português» permitiu que, em menos de duas décadas, passássemos de 50% para muito próximo
dos 100%, em níveis de qualidade da água; que 20 anos foram suficientes para significativos benefícios para o
ambiente, para a qualidade de vida dos portugueses e para transformar Portugal num modelo, no tratamento
dos seus resíduos, com recurso às modernas tecnologias disponíveis no mercado. E tudo isto, sendo estes
setores públicos, de titularidade pública e de gestão pública.
A isto o Governo responde: «É urgente privatizar. É moderno privatizar. Privatize-se!» E assim o fez.
Primeiro, com a Empresa Geral de Fomento e, em breve, com a Águas de Portugal.
Sr.as
e Srs. Deputados, o PS defende, de forma intransigente, a água como um bem público, essencial à
vida e um direito consagrado pelas Nações Unidas.