I SÉRIE — NÚMERO 63
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A privatização ou a concessão de serviços públicos de água, saneamento e resíduos sólidos urbanos
conduz à degradação da qualidade dos serviços, à redução do investimento, agrava as assimetrias no acesso,
ataca os direitos dos trabalhadores e aumenta os preços para os utentes, para satisfazer os lucros das
empresas concessionárias.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Foi exatamente pela identificação destes problemas e pela melhoria do
acesso e da qualidade dos serviços de água que há cada vez mais cidades, regiões e países em todo o
mundo a remunicipalizar os serviços de água, retomando o controlo público da sua gestão. Desde 2000, que
se conhecem 180 casos de remunicipalização, como são disso exemplos a cidade de Berlim e de Paris. Há
também países da Europa, como a Dinamarca, o Luxemburgo, a Holanda e a Áustria em que os serviços de
água são exclusivamente públicos. Contrariamente ao que o Governo diz, a tendência de hoje não é privatizar,
mas, sim, retomar o controlo público da gestão destes importantes serviços públicos.
Para o capital, tudo o que for essencial à vida é passível de ser mercantilizado e tornado num negócio
altamente lucrativo. Para o capital, não há ética, nem preocupações com o bem-estar das pessoas ou a
garantia de direitos humanos. Para o capital, a sua principal e única preocupação é a maximização do lucro,
mesmo que seja à custa de bens essenciais à vida, como é exemplo a água.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Sendo a água um bem essencial à vida, reconhecido pelas Nações Unidas
como um direito humano, para o PCP os serviços de abastecimento de água e de saneamento, assim como os
serviços públicos de resíduos sólidos urbanos, devem ser geridos unicamente por entidades públicas na
perspetiva de serviço público e não na ótica de obtenção do lucro, rejeitando a visão mercantilista e
economicista do Governo, da qual resultarão somente piores serviços públicos e custos mais elevados para as
populações.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Miranda Calha): — Para apresentar o projeto de lei do BE, tem a palavra o Sr. Deputado
Pedro Filipe Soares.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: A água e a gestão de resíduos
sólidos — o saneamento, termo comummente utilizado — são designados pela ONU como direitos humanos
fundamentais.
Por isso, a primeira pergunta que devemos fazer é se os direitos fundamentais, reconhecidos
internacionalmente como tal, devem ser ou não objeto de mercado e se devemos pagar para ter acesso a
direitos fundamentais. A nossa resposta é que nunca o dinheiro pode ser um entrave para se ter acesso a
bens fundamentais.
Do lado da maioria, do lado deste Governo, está claramente uma agenda em contradição com a
Organização das Nações Unidas, até com aquilo que Portugal votou na Organização das Nações Unidas e
com essa assunção clara de que há direitos fundamentais que não podem ser colocados à sociedade, às
pessoas, a cada um e a cada uma de nós à base de um troco monetário e, se não houver essa possibilidade,
sermos impedidos de a eles ter acesso.
Ora a maioria e este Governo têm feito exatamente o contrário. No que toca à água, têm aumentado
exponencialmente o seu custo e, no que toca à gestão dos resíduos sólidos urbanos, têm optado pela
privatização.
Sabemos bem que a intenção é a de trazer para o mercado o que nunca deveria estar do lado do mercado,
porque não se trata só de o mercado não ter sentimentos, é o mercado não relevar os direitos fundamentais.
Não é feito sem consequências imediatas para as pessoas, quer no que toca ao valor das tarifas, quer no
que toca à existência de uma população indignada com estas escolhas. Por todo o País vemos, no que é
fundamental — na água, na gestão dos resíduos sólidos —, que mais facilmente a população se levanta para
dizer «não» a esta política e a este Governo.