I SÉRIE — NÚMERO 64
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Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Miranda Calha): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Gonçalves
Pereira.
O Sr. João Gonçalves Pereira (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Quero começar por
cumprimentar o Sr. Ministro e os Srs. Secretários de Estado, bem como os peticionários.
Hoje, discute-se um conjunto de decretos-leis, chamados a este Plenário pelo Partido Socialista e pelo
Partido Comunista sob a forma de apreciações parlamentares, relacionados com o processo de reprivatização
da EGF. No entanto, não podemos deixar de referir a falta de oportunidade política tendo em conta o tempo
extemporâneo do agendamento para esta discussão, uma vez que, como é sabido por todos, o processo de
alienação da sub-holding do Grupo Águas de Portugal, a Empresa Geral de Fomento, já foi concretizado.
Apesar disso, esta maioria não se furtou ao debate.
É importante sermos claros nesta discussão. Os munícipes têm como principal preocupação a manutenção
e a melhoria do serviço público e o Governo, neste processo, conseguiu assegurar a continuidade, a
universalidade e a qualidade na prestação destes serviços públicos.
Também é importante não ignorar que se procurou ainda, em matéria de regime económico-financeiro,
salvaguardar a aplicação do regulamento tarifário do serviço de gestão de resíduos urbanos, emitido pelo
regulador do setor.
Sr.as
e Srs. Deputados, convém não ignorar algumas das razões que estão por detrás desta decisão
governamental por forma a desmontar a narrativa e a demagogia presentes nestas iniciativas, em particular o
caso do Partido Socialista.
É bom recordar que esta é uma das muitas medidas que decorrem do pedido de ajuda externa negociado e
assinado pelo Governo do Partido Socialista. No Memorando de Entendimento estava prevista a medida de
privatização da Empresa Geral de Fomento, no quadro das medidas a adotar com vista à promoção do
ajustamento macroeconómico. Ou seja, esta medida resultou da negociação do Governo do Partido Socialista
com a troica.
Se já conhecemos as posições do Partido Comunista relativamente ao setor dos resíduos, seja na
estatização dos serviços, como sempre reclamaram, seja o seu eterno preconceito relativamente ao
investimento privado, da parte do Partido Socialista trata-se de um puro ato de desonestidade política.
Mas, a título de exemplo, recordemos apenas alguns casos que constavam do Memorando negociado e
assinado pelo Partido Socialista, em que vincularam Portugal perante as instâncias internacionais,
relativamente aos quais o Partido Socialista deu o dito por não dito.
Recordo apenas três exemplos.
O Partido Socialista inscreveu no Memorando a redução do número de autarquias locais. Está no
Memorando, mas o PS votou contra.
Inscreveram, também, a Lei das Finanças Locais, mas o PS votou contra.
Inscreveram, ainda, aquilo que foi aqui discutido, na Assembleia, mais recentemente, sobre o processo de
descentralização. Está no Memorando, mas o PS votou contra.
Ou seja, o Partido Socialista, num dia, diz e assina uma coisa e, no dia seguinte, vota contra aquilo que
defendeu e assinou na véspera.
É manifestamente notável a capacidade do Partido Socialista para defender uma coisa e o seu contrário.
A única explicação possível que podemos encontrar para justificar esta posição do Partido Socialista
relativamente à EGF é o facto de o Partido Socialista já ter começado a campanha eleitoral.
Mas, em matéria de campanha eleitoral, há uma reflexão que os portugueses devem fazer: que confiança
podem os portugueses ter num partido que assina compromissos internacionais e, passados uns meses,
ignora-os?! Que confiança podem os portugueses ter num partido que já está a prometer a reposição de tudo
e mais alguma coisa, que mais não é do que prometer dívida em cima de dívida, endividamento em cima de
endividamento?! Esta é uma receita esgotada, já bem conhecida de todos os portugueses.
Para o Partido Socialista devia ser claro que as famílias e as empresas não querem voltar nem à
bancarrota nem a um novo vexame.
Mas, Sr.as
e Srs. Deputados, voltemos à questão dos resíduos.