I SÉRIE — NÚMERO 64
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rasgá-la, entregar de mão beijada um monopólio à Mota Engil, contra a Constituição, em todos os aspetos, é
que é, de facto, sensatez e flexibilidade ideológica.
Já não é preconceito ideológico, Sr. Ministro, querer aplicar uma privatização sem um único motivo de
vantagem para o Estado,…
O Sr. David Costa (PCP): — Nada!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — … a não ser a entrega do interesse nacional a mãos estrangeiras ou a mãos
de controlo privado.
Sr. Ministro, uma última palavra sobre a oportunidade da discussão, porque foi assim que abriu o debate.
Disse que isto é uma espécie de tentativa para manter vivo este debate.
Sr. Ministro, talvez seja incómodo, para si, que o Parlamento ainda discuta política,…
O Sr. David Costa (PCP): — Exato!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — … mas para o PCP todas as oportunidades para travar este desastre, este
ataque ao interesse público, serão utilizadas, dentro e fora do Parlamento. E, da parte do PCP, há todos os
motivos para fazê-lo, o Governo é que só tem um: está ao serviço dos interesses privados, é uma comissão de
negócios dos grandes grupos económicos.
Aplausos do PCP.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Muito bem!
A Sr.ª Presidente: — A Mesa regista uma sinalização de pedido de palavra por parte da bancada do
Governo.
É para que efeito, Sr. Ministro?
O Sr. Ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia: — Sr.ª Presidente, peço imensa
desculpa, é a primeira vez que o faço em dois anos, mas pretendia exercer o direito da defesa da honra
relativamente à última frase do Sr. Deputado.
A Sr.ª Presidente: — Faça favor, Sr. Ministro.
O Sr. Ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia: — Sr.ª Presidente, o Sr. Deputado
disse que o Governo está ao serviço de interesses privados e essa é uma declaração demasiado grave para
poder passar incólume.
Protestos do PCP.
Lamento, Sr. Deputado, que não conheça limites, na oratória parlamentar, para ofender uma estratégia do
Governo, que, pelo contrário, privilegiou o interesse público. Se o Governo quisesse promover o interesse
privado e o lucro fácil não teria reforçado o serviço público, não teria reforçado as metas ambientais, não teria
colocado financiamento no programa operacional, para evitar que as tarifas aumentassem tanto, não teria
colocado cláusulas de salvaguarda para a possível reversão desta privatização. Portanto, Sr. Deputado, não
tem nenhuma justificação para a declaração que fez, que é um processo de intenção.
Com a mesma autoridade moral de um Governo que não privilegiou nenhuma empresa por ser portuguesa,
nas privatizações anteriores, não é pelo facto de uma empresa ser portuguesa que não tem o direito de ganhar
uma privatização.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.