11 DE ABRIL DE 2015
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Secretário de Estado da Cultura, do Diretor-Geral do Património Cultural, da PARVALOREM e da PARUPS
por causa do escândalo das obras de Miró, a mesma Lei que também não está a ser cumprida, uma vez que
os alunos do Conservatório Nacional têm de vir para a rua pedir para terem aulas sem que lhes chova em
cima da cabeça.
A Lei de Bases do Património Cultural dá um enquadramento das responsabilidades do Estado no que diz
respeito ao património cultural arquitetónico e arqueológico, mas também no que diz respeito ao património
cultural material e imaterial.
Um problema desta Lei é que muitas das suas partes não estão regulamentadas e outro problema é que
este Governo parece desconhecer a sua existência.
A Lei de Bases do Património Cultural exige que a cada três anos seja apresentado à Assembleia da
República um relatório sobre o estado do património. Isso nunca aconteceu. Nunca nenhum Governo cumpriu
a obrigação de apresentar o estado do património à Assembleia da República, mas, em 2014, as direções
regionais fizeram chegar a esta Casa diagnósticos locais. Não é um documento estruturado mas dá para
perceber o que se passa.
Ficámos a saber que há coisas tão graves em Portugal, não só o caso do Conservatório, como o facto de
haver estruturas e coberturas em colapso, como no Convento de Cristo ou no Mosteiro de Alcobaça.
Ficámos também a saber que há zonas do património onde nunca se fez nada e se continua a não se fazer
nada, por exemplo ao nível da arqueologia industrial.
Quem olhar para Portugal pode julgar que a nossa memória é feita de igrejas e de palácios, mas não é.
Também há o mundo do trabalho, para o qual nunca houve um plano sobre o património para o seu
conhecimento e para a sua memória. E isto para não falar do património imaterial, em relação ao qual ninguém
fez nada, tirando o fado e o cante alentejano, por causa das candidaturas a património da humanidade. Assim,
o património imaterial desaparece e ficamos sem conhecer as tradições e a memória do nosso País.
O Secretário de Estado da Cultura não teve nenhuma ideia até agora sobre isto. Alterou a tutela várias
vezes, criando uma perfeita confusão.
O Sr. Miguel Santos (PSD): — Não é verdade!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — E quando lhe perguntámos como é que vai ser o financiamento para a
preservação do património, ficámos a saber que, pela primeira vez, há um quadro comunitário que não tem um
tostão para o património cultural — disse-o o Secretário de Estado da Cultura.
Depois, veio dizer uma coisa fantástica: «Vamos ter vistos gold!» Quando um turista passear pelo nosso
País e vir alguma coisa à qual ache piada, se calhar pode-se recuperá-la. Termos uma ideia sobre a nossa
memória, o nosso património, o nosso conhecimento, a nossa identidade, assumindo responsabilidades, não;
mas pode ser que haja um turista chinês que faça isso por nós. É vergonhoso, Sr.as
e Srs. Deputados!
A pergunta que se coloca em relação ao património é a seguinte: seremos capazes de passar às próximas
gerações o legado que as gerações anteriores nos deixaram?
O Bloco de Esquerda propõe que seja feito, pelos especialistas, um programa de emergência sobre o
património, levantando as necessidades que há no País, e propõe também que as obras necessárias sejam
financiadas com recurso aos fundos comunitários.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para apresentar o projeto de lei do Partido Socialista, tem a palavra
a Sr.ª Deputada Inês de Medeiros.
A Sr.ª Inês de Medeiros (PS): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: O Partido Socialista apresenta hoje um
projeto de lei que visa reforçar os incentivos à reabilitação e restauro do património cultural e, em simultâneo,
retirar entraves a um setor, o comércio de arte, que é essencial para a nossa economia, mas que também é
essencial para a exportação dos nossos artistas e da nossa cultura.