I SÉRIE — NÚMERO 72
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jovens portugueses, estudantes dos ensinos básico e secundário e estudantes do ensino superior, em
articulação com a política que muitos municípios já hoje desenvolvem para apoiar os jovens estudantes,
porque se substituem, precisamente, naquela que seria uma responsabilidade e um dever do Governo, de
apoiar os jovens e as famílias nos encargos com a educação.
Portanto, Sr.as
Deputadas e Srs. Deputados, se houvesse alguém no Governo ou na maioria que achasse
que o País ficaria melhor à medida que as pessoas estivessem melhor, diria que, mediante o cenário social
dos jovens portugueses, os brutais e históricos 35% de desemprego que os afetam, os comprometedores
níveis de emigração de cerca de 200 000 jovens nos últimos quatro anos, a confrangedora taxa record de
jovens que nem estudam nem trabalham — cerca de 233 000 jovens nestas condições, hoje, no nosso País —
e os insultuosos e indignos níveis de pobreza, que já ultrapassam os 25%, a obrigação de um Governo são em
prioridades seria a de implementar uma política de passes sociais, uma política que se dirigisse a apoiar as
famílias nos encargos com a educação dos seus filhos e que tivesse os passes escolares como prioridade da
política de ação social indireta.
Por isso, Sr.as
e Srs. Deputados, aquilo que aqui trazemos hoje não é apenas a reincidência numa iniciativa
que consideramos fundamental para a igualdade de oportunidades no acesso à educação, é também o apelo
a que se reponha alguma justiça social no apoio à educação e aos jovens estudantes no nosso País e que, ao
mesmo tempo, se faça um esforço no sentido do reequilíbrio dos orçamentos e encargos das famílias com a
educação dos seus filhos, aliás, naquilo que o Governo diz, recorrentemente, ser uma prioridade, mas nada se
vê, que é a manutenção dos jovens no sistema de ensino, no sistema de qualificações, garantindo que se está
a fazer um investimento nas futuras gerações do nosso País.
A verdade é que, se essa seria a lógica natural, também sabemos que a única lógica que persiste, ao longo
destes últimos tempos, é a do «custe o que custar». E a lógica do custe o que custar custou a eliminação
destes programas de incentivo à mobilidade dos estudantes e representou uma opção brutalmente
penalizadora para as famílias, do ponto de vista social, com aumentos, em alguns casos, de mais de 50% nas
despesas ou encargos relativos aos transportes. Mas é também uma opção clara de recuo no apoio que deve
ser dado aos jovens estudantes quer no ensino básico, quer no ensino secundário — e, a este propósito,
reitero o aspeto particular das zonas do interior, onde, muitas vezes, os centros escolares estão muito mais
afastados, pelo que mais se justifica este apoio adicional — e também no ensino superior, sendo, neste caso,
brutalmente penalizador, não apenas porque deixam de ter este apoio, mas porque as regras de atribuição de
bolsas de ação social já são, por si só, penalizadoras. Quando as famílias portuguesas têm menores
rendimentos disponíveis e as universidades portuguesas têm o nível de propinas mais elevado da Europa,
este é um cenário duplamente penalizador para os estudantes do ensino superior.
Por último, Sr.ª Presidente, quero dizer que aquilo que está ao nosso alcance e que nos resta fazer neste
debate é apelar a que, de facto, se reponha alguma justiça neste domínio, não descurando também os
aspetos ambientais que aqui foram referidos, porque, do ponto de vista da política de transportes, é uma
opção brutalmente penalizadora.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Queira concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Rui Pedro Duarte (PS): — Termino já, Sr.ª Presidente.
Se a maioria não encontrar outras razões que a encorajem a votar a favor destas iniciativas, quero apenas
deixar duas novas razões para que vote favoravelmente, e elas são recentes, são frescas, não são boas, mas
são frescas.
No último trimestre, o número de jovens desencorajados…
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sr. Deputado, tem de concluir.
O Sr. Rui Pedro Duarte (PS): — Vou concluir, Sr.ª Presidente.
Estava a referir que, no último trimestre, o número de jovens desencorajados disparou para 21%. Estamos,
por isso, a falar de 85 000 jovens desencorajados e de uma taxa de desemprego jovem que, nos últimos
meses, não para de crescer.