I SÉRIE — NÚMERO 73
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É por isso que, no nosso País, a maior parte dos trabalhadores a tempo parcial não são sequer
trabalhadores voluntários, as pessoas não querem mas é o que há, além da discriminação dupla que muitas
vezes esta realidade laboral tem sobre as mulheres.
Sr. Deputado, isto leva-nos a ter de olhar para aquele que é o grande inimigo da natalidade, que é a
precariedade e o desemprego. O PSD apresenta aqui alterações simbólicas aos contratos de trabalho, mas o
problema é que, hoje, a maioria dos jovens não tem contrato de trabalho. O que a política de austeridade que
os senhores têm defendido produziu foi esta realidade: a esmagadora maioria dos jovens que querem ter filhos
são desempregados ou são precários e, se somarmos a isto a emigração, temos o pano de fundo que explica
a crise demográfica.
A questão da natalidade, Sr. Deputado, não é uma questão moral, de mentalidades. As pessoas querem ter
filhos, mas não podem, porque não têm como projetar o seu futuro. E o problema é, de facto, o modelo de
desenvolvimento que os senhores têm defendido. Seis em cada 10 trabalhos que são criados no nosso País
são estágios e, enquanto o modelo for este, não há medidas simbólicas que nos valham.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Segue-se a pergunta do PCP.
Tem a palavra o Sr. Deputado João Oliveira.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Luís Montenegro, o Grupo Parlamentar do
PCP terá oportunidade de fazer a sua intervenção, que trará ao debate a perspetiva global que tem desta
questão da natalidade e, em particular, o conjunto de propostas integradas que trouxe para a discussão deste
problema, mas queria deixar-lhe algumas questões relativamente à intervenção que fez.
O Sr. Deputado fez uma intervenção recheada de intenções do PSD relativamente a estas questões da
natalidade que não resistem ao confronto com a prática e as opções políticas do PSD e do atual Governo. Sr.
Deputado, afirmar que é necessário incentivar a natalidade, criar condições para resolver o problema da baixa
natalidade em Portugal, depois de quatro anos a insistirem em políticas de desregulamentação dos horários de
trabalho, de incompatibilização da vida profissional com a vida pessoal e familiar, de cortes nas remunerações,
de cortes nas prestações sociais, de desmantelamento dos serviços públicos de apoio à infância, de apoio à
juventude, de incentivos à emigração, de cortes no abono de família, é uma prática contraditória com as
intenções que o PSD traz hoje a este debate.
Mas, Sr. Deputado, como não queremos discutir intenções mas, sim, opções, porque é da discussão sobre
as opções e sobre as propostas concretas que se deve fazer esta discussão, queria fazer-lhe duas perguntas:
porquê adiar e porquê colocar as questões da natalidade em alternativa a outros direitos? Porquê adiar, Sr.
Deputado Luís Montenegro, a opção relativamente ao abono de família? Porquê adiar a reposição do
pagamento do abono de família nos 4.º, 5.º e 6.º escalões, quando esta é uma das medidas centrais para dar
aos portugueses uma ideia, um sentido de incentivo à natalidade em termos de políticas sociais?
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Boa pergunta!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Porquê adiar esta opção se ela pode ser assumida agora, com a importância
que ela tem em matéria de promoção e de incentivo à natalidade? E, depois, Sr. Deputado Luís Montenegro,
porquê colocar as questões da natalidade em alternativa a outros direitos?
Sr. Deputado Luís Montenegro, a questão da meia jornada de trabalho é a opção que o PSD propõe que os
trabalhadores portugueses façam entre ter filhos ou ter um salário por inteiro. Sr. Deputado, esta não é uma
proposta de incentivo à natalidade, é uma proposta que os coloca num dilema, e um dilema que, para muitos
trabalhadores, não terá outro remédio se não o de serem a favor de receberem o salário, porque a
generalidade dos trabalhadores portugueses, a esmagadora maioria dos trabalhadores, não tem condições
para prescindir de parte do seu salário para equacionar ter mais tempo para a sua família.
Portanto, esta proposta, Sr. Deputado Luís Montenegro, arrisca-se a não ser um verdadeiro incentivo à
natalidade, sendo, sim, um obstáculo à criação de condições para que os trabalhadores portugueses possam