I SÉRIE — NÚMERO 73
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Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra, para apresentar as iniciativas de Os Verdes, a Sr.ª Deputada Heloísa
Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados e, se me permitem,
gostaria de me dirigir em particular ao Sr. Deputado Luís Montenegro: O debate que hoje aqui estamos a ter
não é uma coisa à parte dos debates quinzenais e de outros debates que vamos fazer. É que o que é
importante é para integrar não só no debate quinzenal mas também neste.
Creio que o Sr. Deputado estava mesmo com o desejo pleno de que aqui não se falasse nas condições
económicas, porque, sobre condições económicas, os senhores têm muitas contas a prestar quanto ao
desígnio da natalidade, e isso deve ser aqui debatido, Sr. Deputado.
Por outro lado, os senhores desregularam até mais não o horário de trabalho e, depois dessa
desregulação, desse alargamento absurdo do horário de trabalho, querem compensar com os horários das
creches. Devemos pensar se, de facto, esse é o caminho correto e é todo esse debate que aqui temos de
fazer. E os senhores, por mais que não queiram, Sr. Deputado Luís Montenegro, também têm de ouvir e
debater.
Sr.as
e Srs. Deputados, Os Verdes consideram que há um ponto de partida importante para este debate: se
atendermos ao número médio de filhos por mulher, concluímos facilmente que o índice de fecundidade real é
significativamente inferior ao índice de fecundidade desejada.
Daqui retira-se facilmente uma conclusão: há muitas famílias que não têm filhos não porque não queiram
mas porque entendem que não podem, que não têm condições para o efeito.
Ora, aquilo a que se tem vindo a assistir, e todos nós o verificamos, é que também os jovens, hoje, ganham
autonomia cada vez mais tarde porque não têm condições para se sustentar autonomamente e, naturalmente,
para constituir uma família com segurança, com todo o projeto que pode resultar da constituição de uma
família.
Mais dados: o INE garante-nos que o risco de pobreza é mais significativo nas famílias com filhos, e muitos
outros dados vão aqui ser, naturalmente, revelados neste debate, mas tudo isto nos obriga a ligar a taxa de
natalidade — cá está! — às condições de subsistência e à política de rendimentos.
Ora, como o Governo não tem feito outra coisa que não seja retirar rendimentos às famílias, conclui-se que
tem promovido uma política antinatalidade. Julgo que isto também tem de ficar extraordinariamente claro.
Sr.as
e Srs. Deputados: Este não é o primeiro debate que, nesta Legislatura, se faz sobre natalidade. No
ano passado, em 18 de junho, Os Verdes trouxeram ao Plenário da Assembleia da República um debate sobre
a natalidade, com um projeto que estabelecia os princípios orientadores de uma política de incentivo à
natalidade.
Através deste projeto, propúnhamos garantir segurança e adequação dos horários de trabalho;
propúnhamos garantir salários dignos e combater a precariedade; propúnhamos criar condições para diminuir
a emigração, e nós sabemos, Sr.as
e Srs. Deputados, que muitos jovens vão constituir família lá fora, porque
saem do País; propúnhamos a proibição determinante do despedimento de mulheres grávidas, em todas as
circunstâncias; propúnhamos a criação de uma rede pública gratuita de creches; propúnhamos a reposição do
abono de família, entre tantas outras medidas extraordinariamente importantes para incentivar a natalidade.
O PSD e o CDS chumbaram este projeto que Os Verdes trouxeram à Assembleia da República e, na nossa
perspetiva, esse chumbo significa que não querem ir ao centro da questão. E eu acho que isso também já
ficou, hoje, aqui patente: não querem ir às questões centrais! E o debate perde, desta forma.
Sr.as
e Srs. Deputados: Para este debate sobre a natalidade, Os Verdes entenderam não trazer o projeto
apresentaram no ano passado e que foi chumbado, mas concretizar algumas medidas nele estabelecidas, ou
algumas das recomendações que aí eram feitas. Então, decidimos criar três projetos de lei, centrados em três
áreas: educação, saúde e transportes.
Propomos, assim, através de um projeto de lei, a desmaterialização dos manuais escolares, para garantir a
sua gratuitidade. Como sabemos, as famílias portuguesas que têm filhos na escola têm brutais gastos com os
manuais escolares — têm um peso muito significativo os gastos dos manuais escolares.