16 DE ABRIL DE 2015
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Precisam de forte apoio à primeira infância — o próximo Governo que trate disso. Ou seja, dão com uma
mão, em perda, aquilo que tiraram com a outra. Chama-se a isto uma consciência pesada pela forma como
têm tratado as famílias e as pessoas.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Teresa Anjinho (CDS-PP): — Uma vergonha!
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Cecília Honório para uma intervenção.
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Sr. Presidente, Sr.as
Deputadas e Srs. Deputados: Em final de debate, que
saudamos, podemos reconhecer que para quem fez tanto apelo à ausência de «partidarite», a maioria não se
esqueceu de «malhar» em algumas iniciativas do PS, mas nada disse sobre as demais iniciativas, nem sequer
quando questionada sobre o conteúdo concreto de algumas das propostas do Bloco de Esquerda.
Mas nós fazemos este debate com toda a seriedade. Reconhecemos que o problema da natalidade é um
problema gravíssimo que compromete o futuro do nosso País. Sabemos que é preciso respeitar as nossas
mães e os nossos pais, mas, sobretudo, respeitar e proteger as nossas crianças.
Temos a certeza, e nisso divergimos, de que é preciso devolverem o que tiraram às portuguesas e aos
portugueses para eles poderem voltar a acreditar neste País, para eles poderem voltar a ter a esperança que
falta. E é por isso que, do nosso ponto de vista, é preciso olhar para a frente, é preciso pensar futuro e não,
Sr.as
Deputadas e Srs. Deputados, olhar e voltar para trás.
Gostaria de pronunciar-me sobre a dita «meia jornada» de trabalho para os funcionários públicos ou,
melhor, para as funcionárias públicas. Quero perguntar-vos se isto é uma espécie de uma revisão criativa do
«visto familiar» do CDS, porque, na verdade, esta medida introduz uma dupla discriminação inaceitável.
Primeiro, faz uma discriminação entre homens e mulheres, porque é uma medida para elas — e vocês bem
sabem que é! — e uma discriminação entre quem tem rendimentos e salários mais altos e quem tem salários
mais baixos na função pública.
Isto é absolutamente inaceitável, é um recuo. Quero perguntar: isto serve exatamente para quê? VV. Ex.as
endividaram as famílias até ao limite dos limites, os filhos estão desempregados e em casa dos pais. Não sei
se isto é para que as avós, quando são funcionárias públicas e têm de pagar as contas dos filhos e das filhas
desempregados e se, porventura, tiverem netos, possam usar desta meia jornada que VV. Ex.as
assumem e
que, do nosso ponto de vista, é um recuo absolutamente inaceitável!
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Exatamente!
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Esqueceram aquilo que está nos estudos, esqueceram, inclusivamente, o
último relatório da CITE (Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego), ou seja, que os países com
mais elevadas taxas de fertilidade são também os que têm taxas de emprego feminino mais elevadas.
Portugal é exceção, é certo, mas, se perguntarmos se há alguma relação entre a existência de part-time,
de trabalho a meio termo ou de meia jornada e o aumento da natalidade, a resposta é não. Não há nenhuma
evidência, não há nenhum estudo que o comprove, a não ser a vossa vontade de pôr as mulheres a trabalhar
a meio tempo e de as porem em casa a tomar conta das crianças, de porem as funcionárias públicas em casa.
É disto que estamos a falar.
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — É verdade!
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Falamos também de coisas muito mais sérias, como, por exemplo, quando
se pagam fortunas por uma creche — e isto dá cabo de qualquer orçamento familiar — ou quando mulheres
que amamentam são pressionadas a concentrar as horas de amamentação à sexta-feira, porque é o que dá
jeito ao serviço. E poderia dar-vos inúmeros exemplos: de enfermeiras em hospitais públicos que têm de fazer
prova de que estão a amamentar sob pena de ficarem sem as horas para a amamentação a que têm direito ou
de mulheres que são despedidas por estarem grávidas ou em licença de parto.