I SÉRIE — NÚMERO 76
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as grandes empresas, pelo menos até às eleições, pelo menos para saírem nas estatísticas, porque, a
caminho das eleições, não dá jeito nenhum ter tantos desempregados nas estatísticas.
O Governo até vai às grandes empresas descer a taxa que pagam para a segurança social, para, depois,
passados uns anos, vir dizer que a segurança social tem um problema de sustentabilidade, pelo que é preciso
cortar 600 milhões em pensões. É esta lógica de cortar na contribuição para a segurança social, para, depois,
dizer que ela não é sustentável e ter de cortar pensões.
Sr.ª Ministra, olhar para 2019 é olhar para a austeridade nos últimos 10 anos e perceber a quem ela
beneficiou. Os funcionários públicos perderam 15% do seu salário, fora os 10 anos sem aumentos e com
cortes, as pessoas pagam mais IRS e mais impostos, as empresas pagam muito menos impostos do que
pagavam antes da entrada da troica.
Finalmente, uma pergunta relativa ao Tribunal Constitucional, que já foi feita e não foi respondida. O
Tribunal Constitucional foi claro: os cortes são aceitáveis em estado de exceção. E a pergunta que faço é tão
clara quão claro foi o Tribunal Constitucional: vão insistir numa medida inconstitucional que mantém os cortes
ou o novo ciclo é, afinal, mais cinco anos do estado de exceção que a Sr.ª Ministra tanto se esforça para
desmentir?!
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para formular o seu pedido de esclarecimento, tem a palavra o Sr. Deputado Paulo
Sá.
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Ministra de Estado e das Finanças, o Governo pretende
manter, até 2019, a sobretaxa extraordinária em sede de IRS. Contrariamente ao que o Governo afirma no
Programa de Estabilidade, a redução da sobretaxa não corresponde a uma redução significativa da carga
fiscal sobre o trabalho.
Na realidade, o Governo e a Sr.ª Ministra esqueceram-se, muito convenientemente, de dizer que a
sobretaxa extraordinária representa menos de um quarto do brutal saque fiscal dirigido aos rendimentos dos
trabalhadores.
Sr.ª Ministra, em 2013, não foi apenas introduzida a sobretaxa, foi também reduzido o número de escalões
e aumentada a taxa de IRS em cada escalão, incluindo no escalão mais baixo, das pessoas com menores
rendimentos.
O Sr. António Filipe (PCP): — Exatamente!
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Se a sobretaxa representou um acréscimo de 700 milhões de euros na receita
fiscal, a redução do número de escalões e o brutal aumento das taxas representaram um acréscimo de 2500
milhões de euros. Sobre estes 2500 milhões de euros nem uma palavra no Programa de Estabilidade, nem
uma palavra, hoje, aqui, no Plenário.
Mesmo que a sobretaxa venha a ser completamente eliminada em 2019 — algo que não passa de uma
promessa em ano de eleições —, ainda ficam mais de três quartos do saque fiscal. Aquilo que foi anunciado
como temporário, para durar enquanto durasse o Programa da troica, torna-se, por vontade e opção do
Governo, definitivo.
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Isso não é verdade!
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Sr.ª Ministra, tem de explicar aos portugueses por que motivo mantém esta brutal
carga fiscal sobre os rendimentos do trabalho. E não fale apenas da sobretaxa, Sr.ª Ministra, porque a
sobretaxa representa menos de um quarto do saque fiscal; fale dos outros três quartos que o Governo quer
tornar definitivos, mas que anunciou como provisórios.
A Sr.ª Ministra tem de explicar aos portugueses por que motivo não quer descer as taxas de IRS, do
imposto que incide sobre os rendimentos do trabalho, ao mesmo tempo que quer reduzir, durante seis anos
consecutivos, a taxa de IRC, o imposto que incide sobre os lucros das empresas.