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I SÉRIE — NÚMERO 83

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Quatro anos a governar e o número de portugueses e portuguesas sem médico de família é praticamente o

mesmo.

Falemos da situação nas urgências. Não há muitas palavras que consigam sintetizar aquilo a que

assistimos nos últimos meses e sobretudo aquilo por que passaram, e ainda passam, milhares de portugueses

e portuguesas e as suas famílias.

Nunca se viu tantas demissões em bloco de responsáveis clínicos, com particular incidência em grandes

hospitais, e nunca se tinha visto tantas horas de espera e, inclusivamente, mortes de doentes sem serem

vistos por um médico. Só se recuarmos aos tempos em que não havia SNS!

E não nos venha dizer, Sr. Ministro, que o problema está resolvido e que tudo se deveu a um pico de

afluência.

Já sabemos o que pensa o seu Secretário de Estado — tem a vantagem de não ter pudor em insultar o

povo. E cito: «O que nós vimos foi pessoas bem instaladas, bem deitadas, em macas com proteção antiqueda,

em macas estacionadas em locais apropriados, algumas das quais em trânsito eventualmente para outros

serviços. Vimos pessoas em camas articuladas, pessoas com postos de oxigénio, vimos hospitais modernos

…». O protesto ecoou por todo o País — indignação, Sr. Ministro, indignação!

Mas o Sr. Ministro, também acha que o que se viu na televisão revela qualidade, «pessoas bem instaladas

e bem deitadas»?

É que, quando há um problema, o senhor desaparece, nem se ouve. Mas diga hoje ao País se concorda

com o seu Secretário de Estado e, já agora, diga também se concorda com o Presidente do Instituto do

Sangue, que desrespeita esta Assembleia e discrimina homossexuais nas dádivas de sangue, sobrepondo o

preconceito à saúde pública, no exato momento em que estamos em perda de dadores de sangue. Aproveite a

oportunidade, Sr. Ministro, e responda ao País.

Durante quatro anos, não fizeram nada nas urgências, a não ser cortar e inventar urgências metropolitanas

que faliram ao fim de três meses de caos, como é o caso de Lisboa. No interior, o fim das urgências básicas e

médico-cirúrgicas entupiram as urgências que ainda ficaram — novamente o caos.

Cortaram camas no internamento — a ordem foi sua —, entupiram os serviços, impediram as

transferências dos SO das urgências para o internamento. Ao fim de quatros anos, a rede de urgências está

pior. Morre-se à espera de ser atendido. É qualidade? Continuamos à espera das conclusões dos inquéritos

sobre a morte de cidadãos que não foram atendidos.

Porque não fizeram nada para acudir a esta situação? Porque não abriram mais urgências básicas

articuladas com os grandes hospitais? Porque quiseram poupar à custa da nossa saúde!

E não responda com a lengalenga do investimento que fizeram. Em primeiro lugar porque investimento é

coisa que não houve.

Neste capítulo, a sua coroa de glória é ter tentado fechar a Alfredo da Costa e ter conseguido adiar mais

quatro anos a construção do novo hospital de que Lisboa tanto precisa.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — É verdade!

A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Retrocedemos nos cuidados primários de saúde, hoje há menos

acessibilidade por parte dos utentes e menos qualidade na prestação de cuidados, as deslocações

aumentaram, as taxas moderadoras aumentaram, os transportes passaram a ser pagos. As pessoas fazem

contas e sabem que o dinheiro não chega para os gastos em saúde.

E que dizer da rede de cuidados continuados? De promessa em promessa, o Governo não consegue

cumprir a abertura de camas com que se comprometeu em 2012. E mais: o Estado abdicou de ser o motor

desta rede em articulação com os hospitais, entregando este setor cada vez mais importante à iniciativa

privada e às misericórdias, como aliás também fez com muitos hospitais.

Sr.ª Presidente, termino, dirigindo-me ao Sr. Ministro da Saúde.

O Serviço Nacional de Saúde foi construído com a dedicação e o esforço dos profissionais e com

investimento público.

O SNS alcançou, ao longo das quatro décadas desde a sua fundação, uma condição inquestionável:

confiança, confiança dos cidadãos e das cidadãs.

O seu balanço é outro, Sr. Ministro. Os portugueses e as portuguesas não confiam em si!