I SÉRIE — NÚMERO 91
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Termino como comecei, dizendo que, no fundo, em relação ao artigo 278.º, estamos a clarificar os casos
em que temos este agravamento das molduras penais em relação a crimes ambientais e, depois, temos uma
harmonização no crime da poluição marítima, que parece da maior importância. Por isso, sublinhando o
consenso até aqui gerado pela Câmara, quero deixar, também da parte do CDS, a nossa concordância sobre
esta matéria.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
O Sr. Presidente (Miranda Calha): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa
Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Telmo Correia, começo pela sua
intervenção. Sabe qual foi o problema no seu discurso? É que o Sr. Deputado toma as oposições pela prática
que conhece da sua maioria, que é a seguinte: tudo o que vem das oposições é para rejeitar. E, então, achou
que tudo aquilo que vinha do Governo é para ser rejeitado pelas oposições.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Isso não é verdade!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Ora, aqui está a prova daquilo que dizemos muitas vezes: quando
as coisas estão certas, nós votamos a favor, Sr. Deputado. Não tenha quaisquer dúvidas!
E agora, dirijo-me à Sr.ª Ministra da Justiça para dizer que Os Verdes vão votar favoravelmente esta
proposta de lei que o Governo aqui apresenta à Assembleia da República.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — A Sr.ª Deputada é das mais concordantes!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Agora, também não quero deixar de realçar aqui algumas coisas
e talvez até aproveitar a presença da Sr.ª Ministra, que não é Ministra do Ambiente, mas Ministra da Justiça,
mas, porque nós, Os Verdes, consideramos que as matérias ambientais devem, de facto, ser matérias
transversais na governação, é importante que algumas coisas sejam ditas, mesmo que estejamos a discutir
algumas especificidades.
Sr.ª Ministra, estamos a falar do agravamento da moldura penal de descargas poluentes por navios. Ora,
quero dizer-lhe, Sr.ª Ministra, que o sistema de vigilância, em Portugal, não está a funcionar. O sistema de
vigilância marítimo não está a funcionar. Está quebrado, Sr.ª Ministra, está coxo! Portanto, há aqui um fator
fundamental ao nível da prevenção que nos fragiliza imenso. E a Sr.ª Ministra já está a jusante, não é
verdade? A Sr.ª Ministra já está no final da carreira relativamente a todo um percurso que possa vir a seguir-
se, mas aquilo que está antes, Sr.ª Ministra, é extraordinariamente importante. E a Sr.ª Ministra, que tem
responsabilidade pela matéria das penas e da criminalização, deve chamar a atenção da Sr.ª Ministra da
Agricultura para isto que lhe estou a dizer. É que tudo isto deve ter um fio condutor.
Quero também dizer que acho extraordinariamente importante — na minha perspetiva, é um salto
qualitativo que se dá aqui — a preservação, se assim lhe posso chamar (porque acho que também é um fator
de preservação), de algumas componentes da biodiversidade, não apenas em habitats protegidos mas
também em habitats não protegidos.
Precisamos de quebrar esta lógica das fronteiras das áreas protegidas e entender que a biodiversidade não
tem fronteiras, corre muito para além de tudo aquilo que é área classificada, e que as espécies não se
restringem àquelas que estão classificadas na sua importância, quer por serem únicas, quer por estarem em
vias de extinção, e por aí fora.
Ou seja, há toda uma dimensão da biodiversidade que é extraordinariamente importante para a nossa vida,
para a nossa segurança, até daquilo que é desconhecido hoje para nós e que, num futuro próximo ou mais
longínquo, pode vir a ser conhecido, e dela poderemos vir a retirar inúmeros benefícios, como, por exemplo,
ao nível de medicamentos, e por aí fora.
A biodiversidade é uma caixinha de surpresas, mas extraordinariamente importante para o futuro da
humanidade. E nós temos cuidado muito pouco dela, Sr.as
e Srs. Deputados.