I SÉRIE — NÚMERO 91
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A Sr. Cecília Honório (BE): — Há mudanças no CDS, é verdade.
Saudamos a iniciativa do PCP como pertinente e oportuna e vemos nesta proposta de lei alterações
significativas, sem prejuízo de propostas que possamos fazer.
Há aspetos positivos, como o reforço da proteção policial das vítimas, o plano individualizado de
segurança, a análise retrospetiva do homicídio no quadro da violência doméstica e a prioridade no acesso às
ofertas de emprego — o problema está mesmo na falta de políticas para a criação de emprego —, a
atualização da rede nacional de apoio à vítima, a definição de competências da CIG (Comissão para a
Cidadania e a Igualdade de Género) e do ISS (Instituto da Segurança Social), se bem que não conseguimos
entender por que é que não há especificação de todas as estruturas de atendimento, os centros de
atendimento, os núcleos de apoio à vítima, os gabinetes de apoio à vítima, porque são estruturas que têm uma
identidade própria e, nesse sentido, parece-nos que seria oportuno continuar a consagrá-las na proposta de
lei.
Porém, não nos enganemos, e vou citar por alto as palavras muito recentes de um Procurador: «Nós
podemos melhorar, e muito, a lei, estamos nesse caminho, mas se não existirem os recursos humanos
ajustados para uma justiça célere, podemos mexer muito na lei que o essencial está nessa obrigação de a
justiça responder a estas vítimas». Nesse sentido, o Bloco de Esquerda está, como sempre, neste combate,
nesta luta pela melhoria desta lei e pelo combate a este flagelo que continua a fazer tantas vítimas no nosso
País.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Miranda Calha): — Inscreveram-se, para pedir esclarecimentos à Sr.ª Secretária de
Estado, as Sr.as
Deputadas Teresa Anjinho, do CDS-PP, e Carla Rodrigues, do PSD.
Tem a palavra a Sr.ª Deputada Teresa Anjinho.
A Sr.ª Teresa Anjinho (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.a e Sr. Secretário de Estado, Sr.
as e Srs.
Deputados, a discussão da presente proposta de lei, cuja importância é indiscutível, volta a trazer a Plenário
um tema que, sendo recorrente, permanecente dramaticamente atual.
Não obstante a maior atenção do legislador ou do executor, o fenómeno da violência doméstica continua a
registar números preocupantes.
É verdade, e todos o devemos reconhecer, que parte da expressão da realidade em inúmeras reconduz-se
a uma maior visibilidade do problema, a uma maior eficácia do sistema e, por isso mesmo, a um aumento da
confiança nas instituições.
Mas a maior verdade, Sr.ª Secretária de Estado, Sr.as
e Srs. Deputados, é que o drama continua e, ao lado
dos números e das suas interpretações, estão vidas de pessoas que não podemos ignorar.
Estamos a fazer mais e melhor. Não o reconhecer ou não o dizer seria desvalorizar o trabalho e a
dedicação, que aproveito, aliás, para enaltecer, de todos os agentes do sistema. Mas temos de prosseguir. A
violência doméstica é um fenómeno complexo que, por isso, exige uma resposta complexa, uma atenção
permanente, nomeadamente por parte do próprio legislador.
Apesar do número de participações, os dados da Direcção-Geral da Administração Interna apontam para
taxas de arquivamento acima dos 75%. São dos crimes mais difíceis de investigar. A obtenção de prova
depende muito do testemunho da vítima, vítima esta que durante a investigação, não raras vezes, opta por
ficar em silêncio — um silêncio que tanto pode ter origem na culpa ou na dependência emocional face ao
agressor como resultar de justificações mais simples, como seja, exatamente, a falta de segurança.
Para colaborar, a vítima precisa de se sentir segura. A este propósito, creio que há uma inovação
introduzida nesta proposta de lei que pode contribuir para a melhoria da eficácia do sistema: a criação dos
planos individuais de segurança.
Por isso, Sr.ª Secretária de Estado, a minha pergunta é muito simples: em que é que consiste e como é
que serão operacionalizados estes planos individualizados de segurança?