I SÉRIE — NÚMERO 91
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A Sr.ª Elza Pais (PS): — A violência doméstica é uma violência de género,…
A Sr.ª Teresa Anjinho (CDS-PP): — Sempre foi!
A Sr.ª Elza Pais (PS): — … porque está enraizada em desigualdades entre homens e mulheres que são
estruturais e em relações de poder que, por mais que as combatamos e muito temos feito por isso, persistem.
Daí que o nosso combate não possa ter tréguas.
Nesta linha, a Convenção de Istambul vem também consolidar a visão que nós já propúnhamos nesta lei e,
ao mesmo tempo, vem propor formas abrangentes e integradas para a combater, tal como a lei de 2009
previa.
Foi muito difícil construir este puzzle de intervenções, para o qual muito contribuíram os OPC (órgãos de
polícia criminal), as ONG (organizações não governamentais), os Conselhos Superiores de Magistratura do
Ministério Público, uma audição alargada a uma sociedade que se implicou, e este Parlamento também, na
construção desta lei, que se pretendia abrangente e global.
Nada ficou por equacionar, desde a natureza urgente, desde a detenção fora de flagrante delito, que
infelizmente não se faz, desde meios eletrónicos de controlo à distância, que felizmente se está a fazer, e bem
— foi feito quer pelo anterior Governo, quer por este Governo, e que muitas mortes, apesar de continuarem a
ser muitas, têm prevenido. Refiro ainda o tratamento de agressores, a rede de proteção das vítimas, apoios
sociais diversos e não posso deixar de mencionar a isenção das taxas moderadoras para as vítimas de
violência doméstica e algo muito inovador, que também continua por cumprir, que é a educação para a
cidadania.
Mas, apesar de tudo ter sido equacionado, nem tudo tem sido cumprido, o que é normal com qualquer lei, e
esta não foge a esta regra porque a aplicação das leis fica sempre muito aquém dos objetivos e dos princípios
que elas enunciam.
A Subcomissão da Igualdade tem feito, a este nível, um trabalho muito exaustivo e muito intenso e tem
promovido audições diversas, quer com o Conselho Superior da Magistratura, quer com o Conselho Superior
do Ministério Público, com a Ordem dos Advogados, com a PGR, com organizações não governamentais e
com peritos da área, para perceber — isto é muito importante — o que é que nos falta fazer, depois de tudo o
que já fizemos (e tem sido muito), numa intervenção transversal e global, para combater este flagelo.
O PS saúda, por isso, a iniciativa do Governo e saúda também as iniciativas do Bloco de Esquerda e do
PCP no sentido de se melhorar a lei, pois as melhorias são sempre bem-vindas, e de se melhorar também a
lei da indemnização a vítimas de violência doméstica no sentido do aprofundamento do conhecimento e no
sentido do reforço da proteção das vítimas, bem como na recolha de dados para uma análise rigorosa sobre
estas realidades. Temos algumas reservas relativamente a alguns aspetos, mas manifestamos toda a
disponibilidade para fazermos essa discussão na especialidade.
Há um tema que nos é caro e que foi novamente aqui introduzido pelo Bloco de Esquerda, que tem que ver
com o afastamento urgente do agressor. O agressor tem de se afastar em tempo útil, porque, se não, de nada
vale termos medidas para afastar a vítima. Temos de afastar o agressor!
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Elza Pais (PS): — O PS, consciente da urgência dessa necessidade, também já apresentou nesta
sessão legislativa projetos, que, lamentavelmente, foram chumbados, tendo sido inclusivamente inviabilizada a
sua discussão. Mas a vida é assim, e continuamos a dar os nossos contributos para melhorar os projetos que
estão em cima da mesa.
Para nós, Partido Socialista, este é o centro nevrálgico do combate para evitar os homicídios conjugais. Ou
encontramos uma solução para afastar o agressor em tempo útil, como propõe o Bloco e como tinha proposto
o PS, ou então não conseguimos, de todo, travar esta batalha…
O Sr. José Magalhães (PS): — Muito bem!