I SÉRIE — NÚMERO 91
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No quadro da autonomização e capacitação das vítimas, falo da criação de um novo fundo, a ser gerido
pelas casas de abrigo; da facilitação no acesso à habitação, seja com protocolos celebrados com os
municípios, seja com o próprio Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU); da facilitação no
acesso ao emprego e à formação; e, não menos importante, como já foi aqui referido, do programa «A escola
vai à casa de abrigo».
Medidas, todas elas, muito importantes, exatamente na matéria da tal dita integração social e inserção
socioprofissional, para permitir às vítimas o desejável recomeço.
Foi, aliás, reforçada a formação dos profissionais que intervêm nesta área, como também já aqui foi
referido, e muitas outras foram as medidas adotadas em matéria de consciencialização.
Hoje, com a apresentação desta proposta de lei, e atento a todo o percurso trilhado, o Governo dá um
importante passo, que rotulo de estrutural, para melhoramento da arquitetura legal subjacente à prevenção e
ao combate à violência doméstica. De melhoramento e de atualização, de clarificação, de reforço e de
consolidação de estratégias, numa lei que volta, assim, Sr.ª Deputada Cecília Honório, a ganhar a devida
centralidade.
Em suma, e não querendo com isto desvalorizar o passado, a verdade é que nunca, como hoje, a violência
foi tão falada, foi tão debatida e merecedora de um investimento público tão atento, estrutural e transversal.
Assim se compreende a inevitável frustração dos números.
É por isso que, com poucas dúvidas, hoje volto a afirmar o que sempre afirmei: é um facto que ao Estado
cabe o importante papel da definição das políticas públicas, mas também é um facto que este desafio não
poderá nunca ser alcançado apenas por esta via, dizendo-nos respeito a todos, num importante dever de
cidadania e que começa, desde logo, por uma importante alteração de mentalidades, acompanhada de uma
mudança corajosa de atitudes e formas de estar individuais, que possa, desde logo, começar por considerar a
violência como algo que nunca deve ser tolerado.
Por isso, é com persistência, continuidade e aperfeiçoamento que, naturalmente, se diz «bem-vindos» a
todos os partidos e se saúda esta proposta de lei, acabando com aquilo que, naturalmente, todos devemos
reconhecer: este é um caminho que se faz caminhando.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
O Sr. Presidente (Miranda Calha): — Ainda para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Elza
Pais.
A Sr.ª Elza Pais (PS): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo: Para finalizar,
gostaria de dizer que, pela primeira vez, estamos a discutir a solução para o agressor se afastar da residência
onde agride e pode matar a sua vítima. Há sempre uma primeira vez nas intervenções públicas, mas isso não
deve desmobilizar-nos do combate conjunto e transversal que sobre estas matérias tem de ser feito.
A luta não começou ontem, nem com este Governo, nem com o Governo do PS, começou há muitos,
muitos anos, com as organizações não governamentais, com as feministas que vieram para a rua dizer: «Há
aqui uma forte violação dos direitos humanos das mulheres, por isso criem políticas públicas para as proteger
e integrar».
Portanto, é uma luta que vai continuar. Ninguém deverá ter a ousadia de a reivindicar, julgo eu; devemos
ter a humildade de perceber que cada nova etapa é um contributo neste complexo edifício de combate, de
prevenção e, ao fim e ao cabo, de ajuda às vítimas para sobreviverem e construírem um novo projeto de vida.
Mas avançámos neste paradigma de forma indiscutível. Aliás, o PSD e o CDS chegaram a este paradigma
tardiamente.
Vozes do PSD e do CDS-PP: — Oh!…
A Sr.ª Elza Pais (PS): — Ainda bem que o fizeram, porque o Conselho da Europa e a Convenção de
Istambul vêm, de facto, consolidar esta visão.
Gostava de dizer que é preciso avançarmos, e temos de avançar na lógica da educação para a cidadania.