I SÉRIE — NÚMERO 92
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Tem sido um caminho duro e árduo, com sacrifícios para muitos portugueses, ainda havendo muito a fazer
nesta área da precariedade laboral, mas está à vista e é clara a inversão de ciclo desde meados de 2013.
Evidentemente, compete agora aos portugueses escolher se querem, com rigor e de forma firme, continuar
este caminho de recuperação e de estabilidade do País e das suas vidas, ou se preferem ceder aos cantos da
sereia e da cigarra, que inevitavelmente nos trarão de volta a este lugar para debater a precariedade, o
desemprego e a miséria.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
A Sr.ª Presidente: — Ainda para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Oliveira.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Sr. Ministro, no Alentejo há uma
expressão popular que se aplica muito a este debate — o Sr. Ministro «veio à lã e acabou tosquiado».
O Sr. Ministro tentou convencer-nos de que o Governo faz tudo para combater a precariedade, mas,
quando confrontado pelo PCP com os casos concretos da precariedade existente nos agrupamentos de
escolas da Maia e de Santo Tirso, nos serviços de saúde, no próprio Centro Nacional de Pensões, que o Sr.
Ministro tutela, é obrigado a reconhecer que, afinal, é o próprio Governo que promove a precariedade.
E é também obrigado a reconhecer que a precariedade é uma peça fundamental de toda a estratégia do
Governo. Com a precariedade, que os senhores promovem, visam atingir a economia de baixos salários, que
tanto desejam.
Os senhores promovem a precariedade para conseguir que a riqueza criada fique cada vez menos nos
salários e nos bolsos dos trabalhadores e cada vez mais nos lucros dos grandes grupos económicos e
financeiros.
Os senhores promovem a precariedade para criar instabilidade na vida dos trabalhadores, para os poderem
forçar a aceitar piores condições de trabalho, piores remunerações e mais exploração.
Os senhores promovem a precariedade para criar instabilidade na vida dos trabalhadores, mas também
instabilidade nos serviços públicos, degradando o seu funcionamento e criando, assim, as condições para o
seu desmantelamento e a sua privatização.
A precariedade é, de facto, uma opção estratégica da política de direita e serve a quem acumula lucros à
custa do trabalho sem direitos. Mas a precariedade não serve aos trabalhadores, não serve ao
desenvolvimento do País e continuará, por isso, a ser um elemento central da luta contra a política de direita.
E, nesta matéria, os partidos da política de direita e da troica não têm nada de novo a apresentar aos
trabalhadores e aos jovens.
De resto, este debate confirma que com os partidos que se têm alternado no Governo, tanto os da atual
coligação PSD/CDS, como o do PS, os jovens e os trabalhadores deste País só podem esperar mais
precariedade, mais empobrecimento, mais ataque aos seus direitos.
A perspetiva que o PCP aqui quer deixar é a contrária, é a de que há uma alternativa e de que vale a pena
lutar por ela. Vale a pena lutar contra a precariedade e contra o futuro que os senhores querem dar aos jovens
deste País, com a perpetuação dos estágios, dos contratos emprego-inserção, do trabalho sem direitos, com a
perspetiva de uma vida que nunca se poderá organizar porque é esse o preço que os senhores querem que os
jovens paguem com as suas vidas, para garantirem a acumulação de lucros.
O Sr. DavidCosta (PCP): — Exatamente!
O Sr. JoãoOliveira (PCP): — Vale a pena lutar pelo direito ao trabalho e pelos direitos no trabalho. Vale a
pena lutar pela estabilidade nos vínculos laborais, pelos horários de trabalho compatíveis com a vida pessoal e
familiar, por salários mais justos e mais dignos, porque é esse o futuro do País e não o futuro da política de
direita.
Por isso, Sr. Ministro, queremos deixar-lhe esta resposta: continuaremos a insistir nas propostas de uma
política alternativa, à qual, de resto, já nem o Sr. Deputado Pedro Roque fica imune. O Sr. Deputado Pedro
Roque foi obrigado a reconhecer, na intervenção que fez neste debate, que o PCP coloca a precariedade
como uma das suas principais prioridades e como um testado das suas propostas políticas.