I SÉRIE — NÚMERO 96
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A Sr.ª Presidente: — Dou, de novo, a palavra ao Sr. Deputado Jerónimo de Sousa.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Sr. Primeiro-Ministro, estamos aqui perante um dilema.
Afirmou que eu não tinha colocado nenhuma questão e eu volto a insistir: quanto vai custar aos
reformados, aos pensionistas, esse consenso que propõe, designadamente ao Partido Socialista?
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — É uma explicação que, logicamente, deveria dar, porque,
independentemente dessas palavras, fique com esta consciência: os atuais reformados e pensionistas e os
próximos reformados não vão ficar descansados, antes pelo contrário, e não vão permitir ser, mais uma vez,
enganados.
Sr. Primeiro-Ministro, vou colocar-lhe uma outra questão que tem alguma importância. Hoje, sabemos que
precisamos de crescimento, de desenvolvimento económico, de defesa da nossa produção nacional. Há dias,
o INE deu a conhecer ao País a situação das pescas portuguesas. Um desastre: quebra brutal das capturas,
aumento do défice comercial dos produtos de pesca, mais abates, menos frota licenciada. Em 2014, a frota
licenciada atingiu o valor mais baixo desde 2006, diminuindo, assim, a frota de pesca licenciada pelo nono ano
consecutivo.
É esta a realidade que está por detrás da Semana Azul, da muita propaganda sobre a política do mar. É
esta a realidade que se esconde por detrás da Lisboa, capital do oceano e do discurso para enfeitar a nossa
vocação marítima.
Em terra diz-se que «muita parra e pouca uva», mas é comum os homens do mar dizerem que, com este
Governo, «os lances deram todos em água».
E é impressionante ouvir a Sr.ª Ministra da Agricultura e Pescas, e do Mar, creio, dizer que esta situação
desastrosa era expectável.
Como é que responde a isto, Sr. Primeiro-Ministro? Alguma vez foi expectável, para si, este balanço
dramático da situação das nossas pescas? Não considera que é fundamental uma outra política de pescas,
particularmente em relação à pesca da sardinha, que está presente no número de capturas, mas também de
outras medidas urgentes, como a garantia de todos os combustíveis, nomeadamente a gasolina, a custo
reduzido para todos os segmentos da frota?
Sr. Primeiro-Ministro, muitas vezes acusamos o PSD, pela sua responsabilidade no Governo, de ter feito
muito mal ao País e em relação ao mar, este exemplo das pescas é, em si mesmo, dramático. Mas isso
aconteceu também com a destruição da Marinha Mercante, isso aconteceu também com a destruição da
nossa indústria naval.
Nós sabemos que o mar tem potencialidades imensas para este País crescer e progredir, mas este balanço
trágico que aqui é feito pelo INE merecia, da sua parte, uma reflexão e, pelo menos, um ato de
reconhecimento do desastre desta política.
Não o fará, com certeza, mas, Sr. Primeiro-Ministro, percebendo que está a chegar ao fim do mandato,
fique sabendo que, apesar de tudo, os trabalhadores e o povo português não desistiram de lutar, recusando o
conformismo, recusando a desistência. É por isso que os enfermeiros, hoje, estão em greve lutando não só
pelos seus direitos, mas também pelos direitos dos utentes.
A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Queira, Sr. Primeiro-Ministro, saber que amanhã mesmo, aqui, em
Lisboa, junto dos Restauradores, com essa simbologia, ali estará, na marcha, o povo demonstrando que tem
força e que mais cedo ou mais tarde quem vai ser derrotado é este Governo e não o nosso País e a sua
libertação.
Aplausos do PCP.