I SÉRIE — NÚMERO 101
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O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Os Srs. Deputados sabem que o Conselho
Europeu tem na sua ordem do dia dois temas mais gerais, que estão relacionados com questões de
segurança, em particular de segurança na vizinhança da União Europeia, e de natureza económica, porque
este é o Conselho que encerra o Semestre Europeu.
É sabido também que, no contexto desta agenda, os Chefes de Estado e de Governo deverão discutir com
um pouco mais de detalhe o aprofundamento da União Económica e Monetária. Aguarda-se, nesse sentido,
que seja possível a apresentação de um relatório sobre o aprofundamento da União Económica e Monetária
pelos quatro presidentes — ou quatro mais um, na medida em que se supõe que o Presidente do Parlamento
Europeu tenha manifestado também a intenção de se associar a este novo relatório —, nomeadamente os
Presidentes da Comissão Europeia, do Eurogrupo, do Banco Central Europeu e do Conselho Europeu.
Devemos ainda ver aprovadas algumas conclusões sobre o mercado digital e sobre questões de segurança
e defesa.
Mas não há dúvida nenhuma de que há, sobretudo, três questões mais relevantes — políticas de imigração
à parte, também ela uma questão relevante —: o endosso das recomendações específicas para cada país que
foram produzidas pela Comissão Europeia e que o Conselho deverá fazer; a discussão deste relatório de
aprofundamento da União Económica e Monetária e também toda a questão que envolve, nesta altura, a
instabilidade e a incerteza que se vive em torno da Grécia e, portanto, o impacto que isso possa ter na zona
euro. Não creio que seja possível escapar a este debate.
É sabido, no entanto, que já foi convocada uma cimeira da zona euro para segunda-feira à noite, para
discutir apenas a questão da Grécia, procurando, portanto, que possamos chegar ao Conselho Europeu com
esta questão clarificada, de modo a que o Conselho se possa dedicar aos aspetos que estavam inicialmente
no centro da sua agenda.
Quero, em todo o caso, dizer, sobre a questão da União Económica e Monetária, que me parece que o
nível de incerteza que se vive na Europa por causa da Grécia recomenda uma discussão ainda mais
aprofundada sobre a questão da referida União Económica e Monetária. Temos noção, e eu contribuí também,
como Primeiro-Ministro de Portugal, para esse debate através da apresentação de um documento que é do
conhecimento dos Srs. Deputados, de que estes últimos cinco anos da vida europeia nos obrigam a tirar lições
que sejam úteis ao reforço da União Económica e Monetária.
Do ponto de vista do Governo português e daquilo que foi o meu contributo para essa discussão, achamos
que este é um momento muito importante para renovarmos o compromisso político com o euro e, ao mesmo
tempo, devemos apontar para a criação de instrumentos que promovam uma maior convergência entre as
economias da zona euro.
De certa maneira, o projeto político do euro visa aproximar e fazer convergir as economias. Ora, na
verdade, os últimos anos têm sido anos de divergência e isso resulta do facto de os desequilíbrios que foram
acumulados, no seio de uma moeda única, não terem tido outros instrumentos que não a desvalorização
interna para poderem responder aos ajustamentos económicos. Por isso temos dito que seria útil que, sem
deixar de sublinhar a importância do princípio da responsabilidade nacional, pudéssemos reforçar a
responsabilidade europeia na forma de combatermos as crises, de podermos gerir a instabilidade e de
podermos também responder aos choques assimétricos que acontecem, seja de forma endógena, seja de
forma exógena.
Ora, a nossa ideia é que seja possível criar um fundo monetário europeu — como já aqui tive ocasião de
dizer — que esteja à disposição de uma presidência permanente do Eurogrupo, que possa conviver com um
Conselho de Finanças Públicas, em simultâneo, de modo a criar um quadro institucional de gestão de crises
que coloque o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional no seu papel natural. E, depois do
que aprendemos nestes anos, o papel natural do Fundo Monetário Internacional não é socorrer os países da
Europa e o papel natural do Banco Central Europeu é conduzir a política monetária e não definir programas de
ajustamento nacionais.
De resto, ainda hoje foi divulgada uma carta aberta aos quatro Presidentes, subscrita por um conjunto de
personalidades de direita e de esquerda moderadas em toda a Europa que, de certa maneira, defende
também este ponto de vista. Isto é, que este fundo monetário europeu possa ter responsabilidades e
instrumentos para ter uma capacidade orçamental, fundada em recursos próprios, que possa fomentar ou