25 DE JUNHO DE 2015
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A este propósito, recordamos a posição e a proposta apresentada, há anos, pelo Sindicato dos Capitães,
Oficiais, Pilotos, Comissários e Engenheiros da Marinha Mercante no sentido de que o País pudesse
aproveitar a oportunidade do novo Quadro Comunitário justamente para proceder a esse investimento
estratégico para o nosso desenvolvimento e para a tal aposta no mar. Essa proposta pretendia a dinamização
de uma marinha mercante de bandeira nacional, de comércio e de pesca, apoiada nas capacidades dos
estaleiros navais nacionais.
Claramente as opções políticas seguidas pela troica, ou pelas troicas — a nacional e a estrangeira —, têm
sido no sentido contrário a essa estratégia de desenvolvimento do setor marítimo-portuário nacional e, pelos
vistos, também neste domínio, continuamos a depender, na prática, das capacidades e das opções de
operadores de outros países e, portanto, os pré-anúncios e anúncios de apoios e os apoios decididos ficam
sempre em função de eventuais serviços que por ali passem e façam escala.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Termino, Sr. Presidente, dizendo que não desistimos, Srs. Deputados, de
trazer para esta discussão este ponto fundamental: Portugal tem de voltar a ter uma verdadeira marinha
mercante e tem de voltar a ter uma política de serviço público, em defesa das populações, da coesão
territorial, do desenvolvimento e da soberania.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Jacinto
Serrão.
O Sr. Jacinto Serrão (PS): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: As minhas primeiras palavras vão
para os mais de 4500 peticionários que, de forma abnegada, tudo têm feito para restabelecer as ligações
marítimas de passageiros entre o continente e a Madeira.
São cidadãos de todo o País — da Madeira, do continente e até mesmo dos Açores — e são a expressão
máxima do sentimento de unidade nacional que une todos os portugueses.
Segundo a Constituição da República Portuguesa, cabe sobretudo ao Estado promover a correção das
desigualdades derivadas da insularidade das regiões, visando a plena consagração dos direitos de cidadania
dos residentes nas ilhas.
Estes princípios, constitucionais e estatutários, remetem para a obrigação do Governo em garantir os
transportes regulares e acessíveis para a mobilidade de todos os portugueses e a salvaguarda do princípio da
coesão social, económica e territorial.
Assim, a presente petição remete para a necessidade de um novo modelo de transportes marítimos e de
uma visão política por parte de quem governa, voltada para o mar, para potenciar a nossa economia e também
para a afirmação do nosso País no mundo.
Claro que estas pretensões só podem ser concretizadas se o Governo da República e o Governo Regional
tiverem vontade para eliminar as barreiras que existem neste momento nos portos portugueses e, acima de
tudo, coragem para enfrentar os interesses instalados, interesses que, demonstradamente, estão longe de
servir o bem-comum.
Por fim, e até mesmo como Deputado relator desta petição, deixo duas observações que acho pertinentes.
Olhamos com muita apreensão a ausência de resposta do Governo da República para os problemas
identificados e que são da sua responsabilidade executiva direta.
Registe-se, também, a atitude irresponsável e inadmissível dos governos regionais, que criaram todos e
mais alguns obstáculos na operacionalização do Porto do Funchal, obstáculos que determinaram, em parte, o
abandono da ligação estabelecida pelo operador privado que fez, com êxito, esta ligação durante quatro anos
e sem subsídios estatais.
Ao Sr. Deputado do CDS, que acabou de fazer referência a que existe agora uma vontade por parte do
Governo da República em criar uma comissão, devo dizer-lhe que isto faz-me lembrar um velho clássico:
quando não se quer resolver um problema, cria-se uma comissão para o estudar!