30 DE SETEMBRO DE 2016
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A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sr.as e Srs. Deputados, está aberta a sessão.
Eram 15 horas e 2 minutos.
Os Srs. Agentes da autoridade podem abrir as galerias, por favor.
Srs. Deputados, como sabem, a nossa agenda de hoje tem como primeiro ponto declarações políticas, cuja
ordem de intervenção será a seguinte: PCP, Os Verdes, PSD, PS, Bloco de Esquerda e CDS-PP.
Para uma declaração política, em nome do PCP, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Tiago.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Os portugueses são livres de construir o seu
futuro, de escolher os seus caminhos, sem pressões ou chantagens exteriores.
Independentemente de ter havido quem cantasse «vitória» sobre o processo de sanções a Portugal no âmbito
do chamado «procedimento por défice excessivo», a verdade é que esse processo não ficou encerrado. A União
Europeia não só não desistiu como tem vindo a prolongar a chantagem sobre os portugueses.
A pretexto do incumprimento de metas orçamentais, resultado da ação do Governo PSD/CDS, a União
Europeia procura condicionar as escolhas políticas para os atuais e futuros Orçamentos do Estado e opções
centrais de Governo. A pressão exercida agora, ou seja, as sanções não traduzem um mero instrumento
orçamental ou económico da União Europeia, mas um instrumento político de chantagem, de ingerência que
denuncia a natureza e a matriz ideológica da União Europeia.
A mensagem que querem fazer chegar não é dirigida ao Governo português, é dirigida a todos os
portugueses e pretendem dar uma lição: não ousem decidir dos vossos destinos, não ousem construir o vosso
futuro, não ousem querer a riqueza que produziram, nem reconstituir direitos que vos foram roubados.
Cada conquista que o povo português consegue com a sua luta, cada euro que os portugueses investem no
seu Serviço Nacional de Saúde, na educação, na cultura, na justiça, nas forças de segurança, nas pensões e
reformas, no desenvolvimento económico, é um euro a menos para a agiotagem e para salvar os grandes
bancos nacionais e estrangeiros. E é a batalha por cada um desses euros que estamos a travar.
No filme de Tarantino, Django Libertado,Stephen, sendo escravo, ascendeu à posição de capataz e revela-
se ainda mais sanguinário e cruel que o próprio patrão. O capataz é escravo, mas preservar essa posição implica
ser mais patrão que o patrão.
PSD e CDS são Stephen no que toca à forma como a União Europeia pressiona e chantageia Portugal e os
portugueses, colocando-se como capatazes das grandes potências europeias, a quem, mesmo enquanto
Governo da República Portuguesa, se orgulhavam de prestar vassalagem.
Aplausos do PCP.
Ao invés de estarem do lado das conquistas, da recuperação dos direitos dos portugueses, PSD e CDS
rejubilam com toda e qualquer medida de chantagem ou pressão que possa criar dificuldades a essa
recuperação de direitos e rendimentos e posicionam-se como o capataz que faz queixinhas à União Europeia
sobre a ousadia do seu povo.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — É verdade!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Mas este processo e a forma como a União Europeia atua perante Portugal
neste momento político têm significados que não podem ser ignorados.
Em primeiro lugar, as sanções resultam de um quadro político e o PCP não se coloca na posição de apoiar
e louvar o processo de construção da União Europeia, de acatar e aceitar as suas regras, mas depois contrariar
os seus resultados. Ou seja, o PCP não combate apenas a aplicação de sanções a Portugal, o PCP denuncia e
dá firme combate desde há muito a toda a arquitetura que permite que sejam, sequer, equacionadas sanções
económicas a Estados.
Em segundo lugar, a natureza das sanções demonstra que as intenções da União Europeia são precisamente
as de concentrar riqueza e alargar o domínio económico e político das grandes potências europeias. Só numa