I SÉRIE — NÚMERO 7
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O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Sr.ª Presidente, é para uma interpelação à Mesa sobre a condução dos
trabalhos.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem a palavra, Sr. Deputado.
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Sr.ª Presidente, é para dizer que não vemos qualquer problema em
que se aceitem outras inscrições nesta ronda de perguntas ao Sr. Deputado Miguel Tiago, sobretudo porque
estávamos a estranhar que o Partido Socialista não se inscrevesse.
Porém, se por acaso acontecer uma situação idêntica, de algum atraso na inscrição, por parte de outras
bancadas, quero pedir à Sr.ª Presidente que considere também essa exceção.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Foi o que acabei de dizer, Sr. Deputado, ou seja, o de que esta exceção
se aplicará só a esta ronda. A Mesa será absolutamente rigorosa com os tempos.
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Não, não, em relação a todas as rondas!
O Sr. João Oliveira (PCP): — O Sr. Deputado quer presidir aos trabalhos?
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Uma vez que fui informada de que o Sr. Deputado Miguel Tiago
pretende responder individualmente a cada um dos Srs. Deputados, tem a palavra para responder ao Deputado
José Luís Ferreira.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado José Luís Ferreira, das várias considerações
que fez, julgo que será justo dizer que o PCP não concorda apenas com uma, que é a de que a União Europeia
perdeu a perspetiva de humanismo e de construção democrática que tinha inicialmente. Em nossa opinião, a
União Europeia nunca teve esse propósito, nunca teve como projeto o desenvolvimento social e harmonioso
dos povos e das economias que integram o seu espaço, e portanto não se pode dizer que perdeu. Claro que
isto é um preciosismo, mas tem alguma relevância.
Quanto às outras questões que coloca — em relação às disparidades na aplicação dos critérios, aos dois
pesos e duas medidas na aplicação de sanções no quadro da União Europeia, no procedimento por défice
excessivo ou no âmbito de outras metas orçamentais —, do ponto de vista do PCP, no essencial, isso apenas
denuncia que as regras na União Europeia não estão feitas para garantir o harmonioso e equilibrado
desenvolvimento social e económico dos Estados; antes pelo contrário, foram concebidas desde o primeiro
momento para concentrar a riqueza e, ao mesmo tempo, alargar o domínio político e económico e até cultural
das principais potências do espaço da União Europeia. É por isso que essas disparidades e essa dualidade de
critérios também se verifica.
Também colocou uma questão que é importante frisar e que eu, na tribuna, talvez não tenha tido tempo
suficiente para a desenvolver, pelo que aproveito este pedido de esclarecimento para o fazer: a forma como
estas sanções são pensadas é, no mínimo, perversa, tendo em conta que estamos a castigar um País com
instrumentos económicos, precisamente porque ele teve dificuldades em ultrapassar constrangimentos
económicos.
Portanto, até do ponto de vista daqueles que dizem que pretendem melhorar as condições económicas de
um país seria contraproducente. Uma vez mais, isso denuncia apenas a verdadeira natureza e o caráter destas
sanções e a forma como têm sido utilizadas como instrumento de chantagem e de pressão. É que estas sanções
ou eventuais sanções não se dirigem ao passado, apesar de serem justificadas pelos resultados do Governo
PSD/CDS. Elas têm como intenção central condicionar os destinos dos portugueses neste momento e
condicionar as opções dos portugueses para o futuro, para garantir que toda a riqueza que os portugueses
produzam no futuro continue a ser encaminhada para salvar os grandes bancos e para pagar a agiotagem que
a União Europeia também tem estimulado por todos os países.
Portanto, Sr. Deputado, sobre essas questões, eu poderia dizer que há inteira convergência de pontos de
vista entre o PCP e o Partido Ecologista «Os Verdes», nos termos em que as coloca.