30 DE SETEMBRO DE 2016
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O Sr. Hugo Costa (PS): — Bem sabemos que o PSD veio aqui fazer uns incidentes, é o partido dos
incidentes! Não fez perguntas, apenas colocou incidentes parlamentares.
Só não respondeu quantas propostas o Partido Social Democrata vai apresentar no próximo Orçamento do
Estado, que está prestes a dar entrada nesta Assembleia, ou, sendo completamente contra o interesse do País,
se, mais uma vez, não apresenta uma única proposta. Talvez o melhor para o País seja não apresentarem
propostas, porque a verdade é que não têm propostas para apresentar!
Sr. Deputado Miguel Tiago, o Partido Socialista gostaria de lhe deixar algumas perguntas.
Como é possível que um governo de direita, um governo apoiado pela Comissão Europeia e pelo Presidente
da Comissão Europeia, um Governo que, durante anos, foi louvado pela Comissão Europeia pelos seus
excelentes resultados, seja agora culpado por, em 2015, não ter cumprido as suas metas e os seus objetivos?
Também não deixa de ser curioso saber quem tem a responsabilidade sobre estas metas e sobre estes
objetivos. Quem estava no Governo? Por que é que, afinal, a Comissão Europeia, durante anos e anos, nada
disse sobre o cumprimento ou não de objetivos e agora está muito preocupada?
Gostaríamos igualmente de saber a opinião do Sr. Deputado Miguel Tiago e do Grupo Parlamentar do Partido
Comunista Português sobre o porquê desta visão, neste momento, em relação a Portugal e não em relação a
outros Estados.
Uma última pergunta para questioná-lo sobre se estas sanções, que, do ponto de vista teórico, estão a ser
equacionadas a Portugal, podem ou não ser da responsabilidade do PSD e do CDS — e obviamente que o são!
— e se podem ou não contribuir para a má imagem de Portugal no exterior, pondo em risco o investimento
externo, cuja necessidade tanto o PSD como o CDS aqui tanto gostam de proclamar. Obviamente que as
sanções podem pôr em causa a imagem de Portugal e o investimento externo. E de quem é essa
responsabilidade?
E, já agora, questiono-o sobre qual é o partido responsável por, em novembro de 2015, existirem zero euros
de fundos comunitários executados em Portugal.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Tiago.
O Sr. MiguelTiago (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Hugo Costa, a dualidade dos critérios e a forma
como a Comissão Europeia tem vindo a pronunciar-se sobre a situação política e económica portuguesa
denuncia aquilo que na minha intervenção fiz questão de referir: ao serviço de quem está a Comissão Europeia?
Qual é a sua matriz ideológica? E qual é a sua natureza política?
A Comissão Europeia, evidentemente, utiliza as regras ao sabor dos seus objetivos. E o objetivo da
concentração e acumulação e do alargamento do domínio das grandes potências europeias é, neste momento,
convergente com a aplicação ou, pelo menos, a utilização de sanções como instrumento de chantagem perante
a situação política portuguesa, as opções que os portugueses podem vir a tomar e as soluções que podem vir
a construir.
Aquilo que é urgente clarificar, que o PCP também pretende clarificar neste debate e que, de certa forma, se
vai clarificando é precisamente qual vai ser a posição de cada um dos partidos portugueses, das forças
portuguesas no momento em que, por exemplo, na próxima segunda-feira, dia 3 de outubro, for debatida no
Parlamento Europeu a possibilidade da aplicação de sanções, nomeadamente através da cativação de fundos
comunitários a Portugal.
Já vimos que PSD e CDS ficam entusiasmados com esta possibilidade — e, aliás, trazem-na várias vezes
para o debate parlamentar e usam-na várias vezes como argumento político e arma de arremesso.
Isto, por dois motivos essenciais: pelo comprometimento que PSD e CDS têm precisamente com os
interesses que beneficiam deste tipo de instrumentos orçamentais, como sanções que se traduzem em cortes
de fundos comunitários, porque o projeto europeu de concentração da riqueza é partilhado e amplamente
defendido por esses partidos; e também porque a mesquinhez é tal que a forma como encaram a solução política
que foi criada neste momento em Portugal merece da sua parte sacrificar o interesse do povo português a
pretexto da valorização dos seus próprios partidos. A forma como pretendem fazer crer que estas sanções são
uma sanção ao Governo e não aos portugueses é uma espécie de batalha partidária que o PSD e o CDS tentam