I SÉRIE — NÚMERO 7
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perspetiva política distorcida se pode aplicar a um País um corte no financiamento pelo motivo de que o
financiamento do ano anterior não foi suficiente para cumprir metas definidas por entidades alheias a esse País.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Exatamente!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — A União Europeia assume um papel de censor, de distribuidor de castigos,
quando sempre no-la venderam como um apoio ao desenvolvimento, como uma livre união de Estados para
melhorar a distribuição da riqueza e elevar as condições de vida dos portugueses.
Em terceiro lugar, o processo de sanções, independentemente do seu desfecho, constitui já uma ilegítima e
inaceitável pressão exterior sobre a soberania nacional, uma ingerência direta e concreta na vida dos
portugueses e das suas opções políticas.
Os portugueses foram enganados com a apresentação da União Europeia como um projeto de fraternidade,
de liberdade, de desenvolvimento social e económico, de respeito pela soberania dos povos. Em momento
algum foram chamados a legitimar uma União Europeia agressiva, militarista, federalista, punitiva e ao serviço
dos interesses económicos das grandes potências, particularmente da Alemanha e dos seus grupos
monopolistas.
Contudo, essa foi sempre a União Europeia que se foi construindo nas costas dos povos e é com as suas
pressões e chantagens que estamos novamente confrontados.
Em quarto lugar, o processo de eventuais sanções não está desligado do funcionamento económico da
moeda única e da situação concreta em Portugal. Apesar de as sanções se referirem a resultados orçamentais
resultantes do mandato do anterior Governo, é sobre os compromissos orçamentais de futuro que estão a ser
utilizadas como pressão. Ou seja, a União Europeia ameaça com a suspensão de acesso a fundos comunitários
como forma de condicionar as opções de futuro, nomeadamente o Orçamento do Estado para 2017,
pretendendo a continuidade do processo de exploração e empobrecimento que PSD e CDS impuseram aos
portugueses para pagar os custos do constante assalto que os bancos exercem sobre a economia.
Aqui chegados, talvez de forma mais clara do que nunca, é legítimo o sentimento dos portugueses ao
questionarem se valeu a pena o conjunto de sacrifícios e a agressão de que foram alvos. Será que valeu a pena
perder para o estrangeiro nos últimos anos mais de 500 000 jovens, muitos deles qualificados, lançar na pobreza
um terço dos portugueses, desistir das pescas, da agricultura, da indústria, cortar salários e pensões, destruir
emprego, privatizar empresas a eito?
Tudo isso por um projeto de União Europeia que, afinal, é exatamente o contrário daquilo que sempre nos
disseram.
Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, essa questão leva-nos a afirmar, de cara lavada, que o Partido Comunista
Português alertou desde o primeiro momento para as consequências de tal projeto da União Europeia. Mas,
mais do que isso, leva-nos hoje a afirmar a necessidade de rejeitar a submissão às imposições da União
Europeia, confrontando aqueles que, com as suas mentiras, permitiram, e ainda hoje legitimam, um quadro
político europeu que permite a instituições estrangeiras exercerem inaceitáveis pressões sobre opções políticas
dos povos.
Não se trata de forjar uma falsa unidade partidária contra as sanções. Trata-se de recusar em absoluto a
chantagem e a pressão da União Europeia e de denunciar os que hoje, perante os portugueses, dão ares de
patriotas, contra as sanções, mas lá e cá, onde podem falar, votar e decidir, ajudam a construir os tratados e os
pactos em que as sanções se definem.
Romper com a prática desses partidos, construir uma alternativa patriótica e de esquerda e um Governo à
altura do povo que representa é, nesta como noutras encruzilhadas políticas, a solução capaz de devolver a
Portugal o progresso e o projeto de abril. É com esse projeto que está o PCP.
Aplausos do PCP e de Os Verdes.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Srs. Deputados, a Mesa está ainda a registar os nomes dos Srs.
Deputados que pretendem pedir esclarecimentos.
Deixo, mais uma vez, um apelo para que as inscrições sejam feitas durante a declaração política e não
depois.