14 DE OUTUBRO DE 2016
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Nunca será demais referir que a desertificação põe em causa a preservação do nosso património cultural e
deteriora a projeção ambiental e estratégica do território.
Nunca será demais referir que a excessiva concentração urbana no litoral acabará por gerar, inevitavelmente,
deseconomias que agravarão as condições da qualidade de vida urbana dessas mesmas aglomerações.
Este é, pois, um problema de Portugal, é um problema de todos os portugueses. E é bom que se tenha
sempre presente que os territórios de baixa densidade não querem ser um encargo, não querem ser um fardo,
não querem ser um peso para o País, tão-pouco querem depender cronicamente do assistencialismo público
estatal.
Os territórios de baixa densidade querem ser um ativo e uma oportunidade para o desenvolvimento de
Portugal; querem contribuir diretamente para o crescimento do emprego; querem participar ativamente no
processo de reformas e de modernização social, económica e política que o País reclama e têm condições para
tanto se conseguirmos construir um modelo de desenvolvimento assente na valorização económica dos seus
recursos e do seu capital, criando e fixando emprego.
Com a apresentação deste projeto de lei para a criação do estatuto dos territórios de baixa densidade, que
assenta na definição dos princípios reguladores do respetivo regime jurídico, queremos dar início à efetiva
consagração geográfica desses territórios, queremos assegurar que as políticas públicas e os modelos de
governação das regiões mais desfavorecidas sejam delineadas de modo articulado, nelas se incluindo o Estado,
as autarquias locais e todos os agentes promotores de crescimento. Queremos contribuir para a implementação
de soluções inovadoras e sustentáveis, geradoras de economias de escala e da necessária coesão para uma
efetiva pró-atividade na redução das assimetrias.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A criação do estatuto dos territórios de baixa densidade não é a
panaceia para todos os males, nem estes se resolvem numa dimensão temporal inferior a uma geração.
Esta é uma proposta que não exclui outras. Esta é uma proposta aberta à evolução. Este é o princípio de um
caminho que nunca será fácil, mas é, seguramente, o caminho certo.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, vamos entrar num período de perguntas – e respostas, espera-se –,
para o que vou dar a palavra, em primeiro lugar, ao Sr. Deputado Pedro Soares.
O Sr. Pedro Soares (BE): — Muito obrigado, Sr. Presidente.
Sr. Deputado Jorge Paulo Oliveira, queria, em primeiro lugar, saudá-lo por trazer ao Parlamento um debate
sobre uma matéria que nós consideramos da maior relevância. De facto, a dualidade de desenvolvimento do
nosso território continental é um problema territorial e é um problema com consequências sociais de enorme
gravidade.
Para além de todas as variáveis que originam discriminações — as questões relacionadas com a distribuição
dos rendimentos, com o acesso à cultura, etc., —, tem sido introduzida nos últimos anos, no nosso País, uma
outra variável discriminatória, a da origem geográfica, que é uma variável que, neste momento, produz também
discriminações.
A questão que se coloca hoje em dia é a de saber como é que conseguimos enfrentar esta situação que tem
vindo a agravar-se constantemente nas últimas décadas e, a propósito disso, queria colocar-lhe uma questão,
Sr. Deputado Jorge Paulo Oliveira.
Olhando para o projeto de lei que os senhores apresentam e que está em debate, verifica-se que o mapa
constante do Anexo III é bem representativo desta dualidade que vivemos no nosso País, ou seja, a maior parte
do nosso território perdeu capacidade demográfica e capacidade económica para se desenvolver de forma
autónoma, e isto tem consequências nas populações, tem consequências sociais.
Aliás, hoje, nem sequer temos um País bipolarizado, o que temos é um País completamente polarizado numa
estreita faixa territorial entre Setúbal e Viana do Castelo, que inclui as duas principais áreas metropolitanas e
que agrega, em si, a maior parte da população, todo o dinamismo demográfico do nosso País e também o
dinamismo económico do nosso País.
A questão que coloco é esta: Sr. Deputado, acha que o seu Governo, o Governo anterior, não tem nenhuma
responsabilidade na configuração deste mapa? Não tem nenhuma responsabilidade nesta mancha cinzenta,