I SÉRIE — NÚMERO 12
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discriminatória, do nosso País? Aliás, este mapa foi elaborado por uma comissão interministerial no anterior
mandato, mas, que se saiba, não teve qualquer outra consequência a não ser, precisamente, a da classificação.
Diz-se hoje que essa classificação pode ter repercussão positiva no Portugal 2020, mas o que eu lhe digo,
Sr. Deputado, é que, precisamente, até a esse nível, a distribuição dos fundos do Portugal 2020 tem uma base
empresarial, os quais são distribuídos essencialmente através das empresas, precisamente nas regiões do
interior, nas regiões que os senhores chamam de baixa densidade, onde a baixa densidade não é apenas
demográfica mas é também económica e da própria rede de empresas, ou seja, não basta classificar os
territórios de baixa densidade para se resolver, de facto, o problema da incapacidade económica e da
incapacidade demográfica.
De facto, o desenho do Portugal 2020 e todas as medidas que o anterior Governo tomou, nomeadamente
em relação à rede escolar pública, em relação à rede do Serviço Nacional de Saúde, em relação à rede dos
tribunais e ao sistema judiciário, etc., tiveram consequências perniciosas ao nível dos desequilíbrios e das
assimetrias regionais.
Portanto, a pergunta que lhe deixo, Sr. Deputado Jorge Paulo Oliveira, é esta: será que o PSD e o CDS-PP
consideram que o anterior Governo não teve qualquer responsabilidade naquilo que se passou e que este projeto
de lei aparece como uma espécie de autocrítica?
Será que este projeto de lei aparece à medida que nos aproximamos de eleições autárquicas como uma
forma de o PSD se demitir, se escusar às responsabilidades que teve no agravamento das assimetrias e de
todos os problemas de discriminação territorial que vivemos?
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, o tempo que excedeu ao formular a sua pergunta será descontado no
tempo total do seu partido.
Tem, agora, a palavra, também para um pedido de esclarecimento, o Sr. Deputado Álvaro Castello-Branco.
O Sr. Álvaro Castello-Branco (CDS-PP): — Obrigado, Sr. Presidente.
Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Deputado Jorge Paulo Oliveira, em primeiro lugar, gostaria de saudar o PSD por
ter trazido a esta Câmara um tema tão importante como é este relativo à questão dos territórios de baixa
densidade e relembrar que foi o anterior Governo, PSD/CDS, que introduziu esta questão no debate público,
como, aliás, referiu o Sr. Deputado Pedro Soares.
Mas o anterior Governo fez mais do que isso: promoveu uma verdadeira inversão de um processo de décadas
de perda de desenvolvimento económico e social do interior, tendo por base o crescimento económico, a criação
de emprego para reter pessoas e a qualidade de vida destas comunidades nos territórios de baixa densidade.
No entanto, apesar dos esforços desenvolvidos, sabemos que ainda subsistem desequilíbrios, em termos de
desenvolvimento económico e social, entre as áreas metropolitanas e o resto do País, entre o interior e o litoral.
O CDS considera que a coesão territorial é fundamental para a promoção de um desenvolvimento mais
equilibrado, reduzindo as disparidades, evitando os desequilíbrios territoriais e conferindo mais coerência quer
às políticas regionais quer às políticas setoriais que têm impacto territorial.
O atual Governo, o Governo do PS apoiado pelo Bloco de Esquerda e pelo PCP, já no seu programa de ação
e em diversas outras ocasiões afirmou que o interior é uma prioridade do Governo. Pasme-se, Srs. Deputados,
porque, como se vai ver, «a letra não diz com a careta»!
Depois, para além de meia dúzia de medidas avulsas que fomos ouvindo pela comunicação social, o
Governo, apesar de já estar em funções há um ano, ainda não demonstrou ter uma política concreta para aplicar
aos territórios de baixa densidade e resolver, ou minorar, os principais problemas daquelas populações.
O Governo nesta matéria, como em muitas outras, limitou-se a criar grupos de trabalho tal como fazia no
Governo do Sr. Eng.º José Sócrates, mas não apresentou uma verdadeira política de promoção da coesão
territorial, com implementação de medidas para que as empresas, os serviços e as populações se fixem nestas
regiões menos desenvolvidas.
A título de exemplo, ao nível do Portugal 2020, o anterior Governo, PSD/CDS, pretendia direcionar a maior
parte do apoio disponível, cerca de 93%, para as regiões menos desenvolvidas do País — Norte, Centro,
Alentejo e Açores.